Ultimaton

Pena que Marcelo não esteja apostado numa legitimidade acrescida, relativamente a si próprio e ao candidato que bem entender, combatendo claramente a abstenção e almejando mais votos, ao invés de mais percentagem, requerendo menos abstenção (abaixo de 50% já seria razoável) em vez se resignar com uma vitória expressiva percentualmente mas em que mais de metade dos seus concidadãos nem sequer se dignam ir votar.

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  • 22:59 | Segunda-feira, 11 de Janeiro de 2021
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Está ai a campanha eleitoral para as próximas presidenciais, eleições que se realizarão num contexto muito complicado de pandemia a esteroides, com os hospitais a rebentar pelas costuras, com mais de 100 óbitos diários, com casos positivos diários sempre perto da dezena de milhar e que, certamente, irá como outras coisas, afastar as pessoas das urnas.

Marcelo Rebelo de Sousa, em 2016, conseguiu ser eleito à primeira volta com 2.411.925 votos, 52% dos votantes, sendo que apenas votaram 48,66% dos inscritos. Menos de metade dos eleitores inscritos se deram ao trabalho de ir escolher o Presidente da sua República. Esta desmobilização crónica, crescente e que alastra por todo o tipo de actos eleitorais não é nada que preocupe especialmente quem se propõe a ir a eleições. Declarações de circunstância é normalmente aquilo que temos.

Tem-se especulado sobre a atitude panegírica e omnipresente de Marcelo, apostando parte dos que se dedicam a analisar a personagem que o mesmo quererá ser o Presidente mais legitimado da história democrática do país, ultrapassando a percentagem com que Soares foi eleito em 1991, quando ultrapassou ligeiramente 70% dos votos depositados em urna. É legitimo e não vem daí grande mal ao mundo lusitano. A forma escolhida é que, parece-me, irritante e desprestigiante do cargo que o candidato/presidente ocupa.


Pena que Marcelo não esteja apostado numa legitimidade acrescida, relativamente a si próprio e ao candidato que bem entender, combatendo claramente a abstenção e almejando mais votos, ao invés de mais percentagem, requerendo menos abstenção (abaixo de 50% já seria razoável) em vez se resignar com uma vitória expressiva percentualmente mas em que mais de metade dos seus concidadãos nem sequer se dignam ir votar.

Marcelo seria o candidato ideal para o fazer habituado que está a fazer “exigências”. Seria-o pela natureza das eleições, pelo seu caracter e porque assume estas eleições como um mero acto administrativo que o confirmará (até se dá ao luxo de dispensar tempos de antena em televisão). Lembremo-nos que disse que se os incêndios de 2017 se repetissem ele não se candidataria e mais uma miríade de exigências balofas que nunca passaram de fogo de artificio, como aquele das Jornadas Mundiais da Juventude.

Talvez quando isso acontecer e olharmos para as razões de existir cada vez mais gente a não participar no jogo democrático e nos dedicarmos ao combate veementemente dessas razões, seja no ensino, seja na batalha à hipocrisia, bandidismo e mitomania que grassa em alguns dos que se candidatam, possamos ficar descansados com hipócritas maiores. Esses que aos olhos dos seus entusiastas eleitores, não estão “manchados” com o poder, mobilizam desencantados e desesperados pouco atentos e, caso não ajamos, irão, com a ajuda dos asténicos poderosos, dos ambliopes capacitados, destruir a nossa democracia. A inacção a que assistimos há décadas e a desculpabilização de tantas coisas sem perdão, são o combustível perfeito da abstenção e, concomitantemente, da ascensão de falsos profectas que encantam os desatentos.

E porque não um ultimato ao eleitorado: “ou vota 50,01% ou não tomo posse”?

 

(Foto DR)

 

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Publicado em Opinião