Vivemos tempos loucos. Hoje, há duas censuras que pouco devem à do tempo de Salazar, competindo com ela.
A censura excludente, que afasta e estigmatiza, que crucifica e diminui. Desanca as opiniões contrárias, com agrura e rudeza, provocando uma retracção prudente de quem, por bem, se apresenta ao debate e ao exercício pleno da cidadania.
É a censura da ditadura, que à laia de enfeite, se empertiga com os traços coloridos de modernidade. A sua função cumpre-se, quando, de tesoura de alfaiate na mão e fivela no cinto, garante a monotonia das concordâncias e silencia a incómoda divergência.
É a censura que impomos a nós mesmos, com receio de sermos incomodados, retaliados.
A censura que nos faz indiferentes ao que nos rodeia, não porque concordemos ou discordemos, mas apenas porque não nos queremos sujeitar a que qualquer badameco impreparado, sentado em assentos precários, que só o mau uso da democracia permite, nos atire com a lama que colocou na ventoinha doméstica.
A censura que nos faz parecer amorfos e vazios.
A censura que nos faz pensar se vale a pena ter sentido cívico e espírito crítico.
A censura que nos leva a deixar correr, a deixar andar, militantes do “tanto-faz”.
A censura que nos faz estátuas e bustos mudos.
A censura que nos faz sentir incompletos.
Qualquer imbecil, qualquer indigente, venha daí uma rodada, tinto ou branco, basta cheio, derrete opiniões fundamentadas e esclarecidas, só porque não está de acordo com elas.
Qualquer idiota desdiz e maltrata quem não alinha com a sua pequenez intelectual. Não contraria, acusa, não desdiz, ofende. Vai à arca das memórias e desata o novelo da infâmia. Ajusta contas familiares, traz a inveja para o escrutínio.
Qualquer iletrado dá-se à ousadia de atacar o carácter de quem tem o destemor de escrever o que pensa.
Estamos nas mãos dos grunhos que em manada atacam o pensamento e lhe descascam a pele.
A mim, chateia-me ter de aturar estes seres obtusos, uns tipos sem nível, que vivem da calúnia, da infâmia e do deboche.
Dou-me mal com gente vaidosa, sem pergaminhos que justifiquem esse inchaço e adiposidade. Não têm serventia. Quem julga poder contribuir para um debate higiénico, cordato e civilizado, não escolha as redes sociais. Aí, qualquer incapaz debita asneiras, qualquer burro faz-se passar por esclarecido e sábio, qualquer revoltado ajusta contas, de navalha na mão e fisga em riste.
É inquietante a facilidade com que qualquer destituído mental, às vezes sob a capa cobarde do anonimato, faz julgamentos e redige sentenças. Reproduz textos, copiados da Inteligência Artificial, ou oriundos das Comissões Permanentes, um enxame de desempregados, a viverem à conta do orçamento.
De uma forma primária, assassina-se o carácter de pessoas de bem, só porque sim, só porque nas redes sociais, ao que parece, há uma cambada de inimputáveis, que não responde por coisa nenhuma.
E é nessa certeza que esses meliantes, criadores de grupinhos fantasmas, chafurdam na gamela da vianda, sem terem a coragem de dar a cara. Sentem-se melhor assim, criticando anonimamente o poder, mas beneficiando, publicamente, dos seus favores.
As redes sociais promovem os bipolares e os duais. E como é difícil identificar as espécies em causa, vamos convivendo com essas múmias sem rosto, que se encavalita no ódio e vive de encostos. Aparecendo, de onde menos se espera. A mim, enojam-me. Se as puder evitar, fico mais tranquilo.
Sem castigo, que os expurgue.
Rebelo Marinho