Recebi o alerta para um tema tabu na sociedade portuguesa, o suicido, através da escrita de Henrique Raposo, no livro Alentejo Prometido (Fundação Francisco Manuel dos Santos): “O que distingue o Alentejo não é a pobreza, a paisagem, o calor, a solidão ou a genética, mas a arrumação do suicídio na prateleira amoral, no ângulo morto da moral.”
O Alentejo tem uma taxa de suicídio 70% acima da média nacional, ocorre essencialmente entre os homens mais velhos e é “encarado com uma normalidade assustadora” (Carmen Garcia, Público, 14/09/2025). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos em todo o mundo. Em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2021 registaram-se 934 mortes por suicídio e lesões autoprovocadas, o que corresponde a uma taxa de mortalidade de nove por 100 mil habitantes.
Por estes dias, fomos confrontados com o suicídio de dois jovens, numa escola secundária. Os jovens que decidiram pôr termo à sua vida merecem o nosso respeito. A intimidade, a dor e o luto das famílias exigem recato. A comunidade escolar não precisa de tudólogos inescrupulosos, mas de tranquilidade, solidariedade e união.
Repugnam-me as carpideiras de serviço, eximias na “caça às bruxas”, travestidas de justiceiras, sem demonstrarem um pingo de empatia e respeito pelo outro. Sem qualquer pudor fazem assassinatos de carácter e dão-se ao desplante de vilipendiar toda uma comunidade em sofrimento.
A sociedade precisa de falar sobre suicídio, sem dúvida. O silêncio alimenta o estigma e contribui, em grande medida, para que não seja pedida ajuda, por parte de quem está em sofrimento. O suicídio é uma das principais causas de morte prematura no mundo, estando uma boa parte dos casos associados a doenças mentais tratáveis.
Descobri, na Feira do Livro do Porto, o livro “O Verão dos Mergulhos” (Orfeu Negro), eleito, pelo New York Times, como o Melhor Livro Ilustrado para crianças. A escrita de Sara Stridsberg e as ilustrações de Sara Lundberg convidam a um mergulho com sensibilidade e empatia na depressão de um pai que perdeu a vontade de viver e de uma filha que comprova o amor incondicional pelo pai de quem nunca desistiu.
Precisamos de quem saiba pintar (as ilustrações são magníficas) a tristeza para que a possamos superar, voltar a sonhar e celebrar a vida.