O “bizarro empresário” Ricardo Moutinho

Como é que este criador de centenas de empresas, para poder contornar o fisco (confessa), algumas com sedes inventadas (até no Dubai), ostentando um falso doutoramento, admitindo ter criado a Green Endogenous especificamente com o fim de “…  apresentar este modelo empresarial às autarquias”, tem aceitação imediata e não adequadamente escrutinada num negócio com dinheiros públicos, no montante de milhões de euros?

  • 10:24 | Sábado, 12 de Novembro de 2022
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O povo é sábio quando afirma “Cada cavadela sua minhoca”. No caso do ex-secretário de Estado e ex-presidente da Câmara Municipal de Caminha, o provérbio parece assentar a preceito.

Depois da semana de todos os desastres protagonizada por Miguel Alves, faltava o empresário Ricardo Moutinho,  com quem o negócio do CET de Caminha foi feito, vir a terreiro, exuberante, cavalgar a onda mediática para, num assinalável e eloquente despudor, dizer aos portugueses quem é.

 


E desta voluntária confissão surge-nos uma personagem no mínimo estranha, aparentemente megalómano, supostamente artificioso e certamente deslumbrado na sua acidentada relação com a verdade e na sua incomensurável capacidade criativa.

Criador compulsivo de empresas, às centenas, com ou sem actividade, sedeadas aquém e além, concorreu com a empresa Green Endogenous à construção do Centro de Exposições Transfronteiriço de Caminha. A obra pela qual recebeu a título imediato, de sinal, 300 mil euros.

Na acta camarária e em jeito de justificação pode ler-se: “A Green Endogenous tem muitos investimentos na área hoteleira e aeroportos na Turquia, Rússia e todos os países do leste da Europa, totalizando mais de 20 aeroportos”. Agora confessa em entrevista ao Expresso que “Vou até mais longe, esta estrutura foi criada de propósito para apresentar este modelo empresarial às autarquias”. E mais admite que essa empresa, à data do concurso, com seis meses de existência, “nunca havia estado ligada a qualquer projecto.”

Como é que este criador de centenas de empresas, para poder contornar o fisco (confessa), algumas com sedes inventadas (até no Dubai), ostentando um falso doutoramento, admitindo ter criado a Green Endogenous especificamente com o fim de “…  apresentar este modelo empresarial às autarquias”, tem aceitação imediata e não adequadamente escrutinada num negócio com dinheiros públicos, no montante de milhões de euros?

Como é possível tal cenário? Quantas situações análogas existirão por esse país fora?

Deveremos acreditar na “ingenuidade” dos decisores públicos? Ou será apenas um mero e pontual caso de ligeireza processual?

E referentemente ao “empresário phd”, Ricardo Moutinho que lhe irá acontecer? Perante a inconclusão da obra vai devolver o sinal acrescido das legais penalizações? Vai ver-se a braços com o fisco? Vai pagar pelas falsas declarações?

Insondáveis mistérios, estes…

 

(Foto de capa Ana Baião – Expresso – DR)

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