O “match” Soutosa-Ariz

Sempre vivi as minhas vilegiaturas beirãs bebendo a aldeia e as suas gentes de igual para igual, seguindo a miudagem que por lá vagueava nos dias quentes e intermináveis de Verão.

  • 13:31 | Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2017
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Num dia de Verão, tão distante que o sol que o guardava se encontra já amarelecido de tanto esquecimento, fiz parte de uma selecção de futebol, a única em que consegui jogar, longe do aparato citadino e da confluência das grandes multidões. Encontrava-me de férias na Beira Alta e acompanhei os miúdos de Soutosa, uma minúscula povoação de alma bárbara que acolhera a família de meu avô Aquilino.

Sempre vivi as minhas vilegiaturas beirãs bebendo a aldeia e as suas gentes de igual para igual, seguindo a miudagem que por lá vagueava nos dias quentes e intermináveis de Verão.

Pusemo-nos então a caminho de Ariz, uma aldeia das imediações e por isso obra de arruaças e despiques mil, mas que eu adorava porque nela se entalhara um penedo gigantesco donde brotava miraculosamente água do seu interior.


Lembro-me que o campo pelado ficava perto deste penedio desengonçado e que jogo deu início a uma correria sem táctica, onde todos jogadores envolvidos corriam de um lado para o outro num atabalhoamento indescritível. Fomos copiosamente derrotados por sete a dois ou a três. E, pior do que isso, fomos corridos à pedrada por uma índole de filhos de turdetanos. E pernas para que vos quero, só nos restou fugir por uma leira abaixo, enquanto o Diabo esfregava os olhos, ripostar as pedradas e como era obrigação não deixar ninguém para trás. Mas quando a agonia do fôlego perdido foi recuperada, rir a bandeiras despregadas com o aparato do sucedido.

Quando acabavam as férias, e roubando algumas palavras ao meu avô, eu vinha embora e “trazia a aldeia nos poros, no sangue e no cérebro”.

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Publicado em Cultura