A criação e a morte

José Régio escrevia então, e tinha praticamente concluída, Benilde, ou a Virgem Mãe, que li, assarapantado, em Dezembro de 1982.

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  • 10:37 | Segunda-feira, 15 de Novembro de 2021
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José Régio interrompeu o diário íntimo entre 1941 e 1946. Retomou-o em 22 de Outubro, disposto a fazer dele «alguma coisa». Embora o teatro e o romance fossem a sua mais completa confissão pessoal, retomou o diário para anotar os pesadelos que lhe sobrevieram após a morte da mãe, em Abril.

Imaginava-se em Vila do Conde, na ourivesaria do pai, que ocupava o rés-do-chão da casa da família. «Meu pai», lembra José Régio, «estava dentro do balcão. Minha mãe tinha chegado, ia sair comigo. Estava vestida de preto, e era de luto por ela própria. Porque ela já tinha morrido uma vez; e agora estava outra vez viva, mas em contínuo perigo. Eu sentia-me feliz por ela, ao menos, ainda estava assim viva depois de ter morrido, disposta a passear comigo como nos bons tempos da sua primeira vida.»

José Régio escrevia então, e tinha praticamente concluída, Benilde, ou a Virgem Mãe, que li, assarapantado, em Dezembro de 1982. «Qual é o fio subtil que permite desenlear a trama da obra?», perguntava-me, impressionado com a religiosidade, a demência e o apelo dos sentidos. Depois de anos a pensar nesta peça, José Régio diz que a compôs a seguir às férias grandes, em dias «de grande exaltação» e devaneio. «Momentos belos, esses (hesito em lhes chamar felizes).»

 


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