Sábado cultural

A livraria é um ponto de encontro onde nos cruzamos com pessoas com quem podemos partilhar sucessos e angústias, pontos de vista, debater sobre o passado, presente e futuro, criticar, elogiar, sonhar, imaginar, irritar, alegrar. Enfim, uma livraria é um espaço privilegiado de cidadania, educação e humanização. É difícil de entender que possamos viver sem elas ou que nos encarceremos no digital, talvez um erro letal.

Tópico(s) Artigo

  • 11:13 | Segunda-feira, 05 de Fevereiro de 2024
  • Ler em 2 minutos

Recordo-me bem, sem quaisquer saudades, do mês de março de 2020. Terei sido das primeiras pessoas, em Viseu, a ser apanhado pelo vírus – Covid-19 –   que quase nos enlouqueceu. Foi estranho receber telefonemas de quem, ao invés de me questionar se estava bem, procurava saber se tinha estado comigo nos últimos dias… Também recebi gestos de carinho, solidariedade e generosidade que não esquecerei. Afinal de contas, viver sozinho, numa pequena aldeia, não poder sair de casa (a GNR chegou a ligar para confirmar), revelou-se algo complicado para quem, como eu, não se tinha preparado para o que aí vinha. Serve esta mini reflexão a talho de foice para a primeira atividade cultural, uma iniciativa que teve o seu gancho na pandemia.

15H00 – As “cicatrizes” da pandemia e o gosto que tenho por fotografia levaram-me ao Museu do Quartzo – Centro de Interpretação Prof. Galopim de Carvalho para a inauguração da exposição fotográfica “Amor em Quarentena“, de Nuno Viana. Um projeto criativo e multifacetado, alimentado pela poesia, música, cinema e fotografia. Um aspeto curioso, caso decida, não deixe de o fazer, visitar a exposição, pode ver a secretária, o computador, os textos e a máscara queimados por um fogo, junto ao mar, numa espécie de purificação libertadora.

16H00 – Já não me foi possível ver o filme nem recolher a assinatura do Nuno Viana no excelente livro que reúne um interessante conjunto de poemas e fotografias. Dirigi-me à Biblioteca Municipal D. Miguel da Silva onde decorreu a apresentação do Livro Infantil “O coração dos avós é de chocolate”, de Adriana Alves. Se na iniciativa anterior houve necessidade de colocar mais cadeiras, a sala da biblioteca estava, como nunca a vi, a abarrotar. O livro leva-nos numa viagem com o Bernardo e a família que muito nos ensinam “sobre a semente do amor, a importância de semeá-la e cuidá-la”. Um livro que todos vamos querer ler, por nós, pelos nossos pais, avós, filhos, netos…


17H30 – No acesso ao auditório da biblioteca, numa espécie de dois em um, pude fruir da exposição de pintura “Rostos da Igualdade” de António José Ervedeiro, um conjunto de aguarelas e guache que merecem ser visitadas.

18H30 – Um raide pela livraria Leya na Pretexto e, como sempre, dois bons dedos de prosa com a Mariana Sacramento. Sim, uma livraria é muito mais do que um local onde se vendem e compram livros. Este simples facto, poder conversar, impede-me de comprar livros num hipermercado, numa estação de serviço, nos CTT ou, nem sempre foi assim, na própria FNAC. A livraria é um ponto de encontro onde nos cruzamos com pessoas com quem podemos partilhar sucessos e angústias, pontos de vista, debater sobre o passado, presente e futuro, criticar, elogiar, sonhar, imaginar, irritar, alegrar. Enfim, uma livraria é um espaço privilegiado de cidadania, educação e humanização. É difícil de entender que possamos viver sem elas ou que nos encarceremos no digital, talvez um erro letal. Trouxe dois exemplares, ambos de autores franceses, que vou começar a ler este fim-de-semana:

§  “A Vergonha” da autora vencedora do prémio Nobel da Literatura em 2022, Annie Ernaux (Livros do Brasil)

§  “O Espírito do Tempo” de Edgar Morin (Edições Piaget)

 

 

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Opinião