Quero Tempo…

Compreender a natureza da vida, indagar os interesses que servem a morte é o que tem colocado o meu intelecto mais nervoso.

  • 11:41 | Domingo, 03 de Setembro de 2017
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Não sou daqueles que gostam de ficar do lado de cá da janela. Gosto de olhar para além dela e atravessá-la em direção ao horizonte. Acordar do sono profundo com que a vida nos aliena. E saber mais…

A vida nunca deixou de me impressionar, pelo que tem de irracional, de absurdo, de estranho, de rude, de incompreensível e de enigmático. Por isso, ao longo da existência, tenho feito muitas perguntas sobre a vida e o mundo. Que valor tem um futuro em que a sobrevivência é a curto prazo? Em quem confiar? Com que é que nos devemos preocupar? O que nos faz sentir bem? Por vezes, o coração está aos saltos, o suor cobre o rosto e sinto o frio que o medo do desconhecido traz. O meu ceticismo sempre foi evidente.

Não aceito as soluções dadas pela cultura popular, porque são perigosas, as da religião, porque demasiado doutrinárias, e as dadas pela boa ou má ciência, porque são insuficientes.


O mundo encerra maravilhas e prodígios, mas o mundo é bruto e cruel. Esta ambivalência sempre me estimulou e angustiou na reflexão sobre o conhecimento humano. Trata-se de perscrutar os segredos de uma vida cheia de ideias falsas, de confusões e imitações baratas. Assim, quotidianamente o pensamento está em contínua procura da luz e da perenidade e repudia a escala de tempo que nos é imposta.

Compreender a natureza da vida, indagar os interesses que servem a morte é o que tem colocado o meu intelecto mais nervoso. É com desconfiança que vejo que a morte não é o fim e que, no esquema da existência, o homem não é mais do que uma combinação de átomos particularmente complexa.

A noção de que a vida é uma fraude leva a perguntar: qual o espaço para a esperança? Como atenuar a obsessão pela incompreensão? É constante o borbulhar do desespero da ignorância acerca do que cada um de nós é, face à manutenção dos problemas insolúveis que o mundo nos apresenta.

E são estas limitações, o julgamento que faço das imperfeições e fragilidades humanas, o lugar pequeno que ocupamos no cosmos, que me obrigam a um exame crítico e a uma constante incredulidade. O melhor de que dispomos é pouco face ao que desejamos e ansiamos, face à grandeza do que podemos dar. A beleza e a subtileza da vida não cumprem as promessas de um futuro recheado de expectativas e a vontade de realização esplêndida daquela. Motiva-me, porém, a partilha de perplexidades e a vontade de as confessar à humanidade. A expressão de uma maneira de pensar, sentir, viver e dizer quanto à dor e à desilusão por não ser o elemento humano a ter o controlo das coisas e a sua existência em mãos.

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Publicado em Opinião