As pessoas estão violentamente extremadas! Andam aziadas, sensíveis, intolerantes. Irreconhecíveis. Não é resultado das eleições, já o eram antes.
Ao mínimo sinal de divergência, alcunham, ou afastam-se, com o desprezo e a indiferença dos bois. Reagem bruscamente. São agressivas no trato e violentas nas críticas.
Gente de bem, com vida feita e pensamento próprio e independente, com carreira académica impoluta, é detonada, sem piedade. Uma vergonha, um retrocesso.
É inaceitável este percurso e modo de vida. Voltámos ao salazarento “Quem não é por nós, é contra nós“, numa versão moderna, igualmente manhosa e estúpida.
O que fez dessa asserção uma coisa repugnante, não foi a sua autoria, ter vindo de quem veio, uma personagem sinistra, foi a sua implacável e miserável substância, a cultura do ódio e a tutela da verdade nela implícitas!
Em certa medida, replicamos o que, tristemente, aconteceu outrora, décadas atrás, no que designámos tempo das trevas. Mudaram os tempos e os senhores, mas os hábitos mantiveram-se, os fatos da mesma fazenda. As reacções têm o mesmo calor e ferrete. Não aprendemos nada com o passado e, por incompetência, a ele regressaremos, num rápido.
Nas redes sociais – lugares por excelência do sacrifício dos que se atrevem a exprimir opinião – há diários assassinatos de carácter. Os frustrados carregam nos fuzilamentos. É escandalosa a forma gratuita como os grunhos atacam quem não pensa como eles. As redes sociais, que amplificam e dão uma cobertura execrável ao insulto, são um antro de perdição.
Já nem me dou ao trabalho de responder às abéculas ressabiadas que, não me conhecendo de lado nenhum, bolsam nojices e vomitam febres. Transformaram-se num bordel que tripudia honras e dignidades. Só por necessidade, a frequento, com armaduras que me protegem dos imbecis idiotas. Qualquer homúnculo lá debita opinião e formula juízo com a desfaçatez dos estúrdios. E tem quem o siga, uma corja de invertebrados, vermes sem rosto, que, sem lhes conhecerem o sentido, juntam letras, numa crítica arrasadora.
Aí, qualquer anão sente-se grande, qualquer animal sente-se gente. Qualquer soldado de infantaria é comandante de companhia. E o que mais me confunde, e inquieta, é que essa massa disforme, na embriaguez da igualdade que a democracia representativa lhe reconhece e na folgança dos direitos humanos, vota e decide.
E isto não é um delírio!