O vovô sinaleiro

Num dos passeios que faço com dois, dos meus três netos, um rapaz de cinco anos e uma menina de oito, descemos do Parque Aquilino Ribeiro, onde tínhamos comido um gelado, atravessámos o Rossio, cruzámos a Rua da Paz e começámos a subir a Rua do Comércio em direção à Sé.

  • 22:11 | Sábado, 01 de Agosto de 2020
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Ser avô é uma distinção que a vida nos dá. É passares a ser um novo estado. Além do sólido, do líquido e do gasoso, és também plasma, eletricamente um bom condutor. Ficas algures entre a emoção do recomeço e a razão do entardecer, o fim de algo e o início da coisa seguinte. Portanto, é bom!

Num dos passeios que faço com dois, dos meus três netos, um rapaz de cinco anos e uma menina de oito, descemos do Parque Aquilino Ribeiro, onde tínhamos comido um gelado, atravessámos o Rossio, cruzámos a Rua da Paz e começámos a subir a Rua do Comércio em direção à Sé.

“Cuidado Léo, vem lá um carro” disse eu, com a certeza de que iria repetir a frase inúmeras vezes, até chegar à Praça D. Duarte. A irmã, mais habituada na convivência com os carros que por ali passam, lá ia ajudando na viagem, “Nené não corras, olha os carros“. Nené é como a irmã chama ao irmão. Um carro, depois outro lá nos íamos safando no passeio estreito guardado por pinocos de betão, revestidos por fina camada de nobre metal. “Olha um Porsche”, reclama o Léo, “era um Porsche vovô”! A irmã aproxima-se de mim e de forma cúmplice, algo denunciadora, disse “o Nené vê Porsches em todo o lado, vovô “. “Era vovô” defende o Léo, conhecedor da marca de Stuttgard pelas inúmeras miniaturas da marca que circulam lá por casa.


Léo, disse eu, se for um Porsche, volta a passar daqui a pouquinho. Vai dar a volta à Sé, desce pelo jardim das mães, contorna o Rossio e está a passar aqui novamente. “Como sabes isso vovô?” perguntam em uníssono. Pronto, tinha sido apanhado! Como ia eu explicar tamanha sabedoria, tão grande capacidade de adivinhação! Com a solenidade na voz que o momento pedia, disparei de mansinho: Sabem, há trinta anos atrás também eu fiz este circuito de carro, era uma espécie de ritual sabem! “Ritual?” dispara um, que nem sei qual foi. Pois, um ritual é uma coisa que fazemos por hábito, uma iniciação não sei bem a quê, mas fazia. “Olha vovô, o Porsche voltou” gritou o Leo, salvando-me de mais confidências incriminatórias.

Nota: É visível na foto um camião estacionado, um casal com carro de bebé e carros a passar em simultâneo

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Publicado em Opinião