Nélson, o Pequeno

Não esqueço - quem esquece? - que Nélson torceu pelo adversário de Pedro, na última final olímpica, como se o rival fosse da sua equipa. Quem pode entender este revanchismo, este mau perder, este ódio de estimação?

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  • 15:54 | Segunda-feira, 20 de Março de 2023
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Já não foi a primeira vez. Já antes Nélson insultara e destratara a despropósito Paulo Pichardo. É useiro e vezeiro na embirração que mantém, e cultiva, com o campeão europeu, mundial e olímpico, cubano de origem, naturalizado português. Tal e qual Nélson, costa marfinense, um integrado, segundo os preceitos legais em vigor.

Não esqueço – quem esquece? – que Nélson torceu pelo adversário de Pedro, na última final olímpica, como se o rival fosse da sua equipa. Quem pode entender este revanchismo, este mau perder, este ódio de estimação?

Podia ser racismo, mas nem a cor da pele os separa. O desaforo não tem explicação, e pena é que ninguém lhe tenha aconselhado siso e contenção na ira e na nervoseira que dele toma conta na hora do sucesso alheio.

Imagino a raiva que se apodera de quem vê perder-se a grandeza e ofuscarem-se as luzes da ribalta.


Imagino a frustração de quem vê incumprirem-se os objectivos traçados.

Imagino a decepção de os vermos atingidos por outros, que supúnhamos incapazes de tal.

Imagino a insuficiência de nos vermos reduzidos à cara do anúncio de produtos de beleza ou de roupa íntima.

Imagino o peso da queda, da descida do Olimpo à terra chã.

Acontece que a linha de fronteira entre a vaidade e o ridículo é muito ténue e um passo em falso pode deitar tudo a perder.

 

Sentindo-se inamovível do pedestal onde o mérito e a glória o colocaram, apalhaçou-se nos comentários de fel que em má hora destilou.

Julgando-se rei e senhor, pensou-se único, e, nessa sandice, não houve uma alma que o temperasse, mostrando-lhe a dura normalidade da realidade dos dias.

Entre dois campeões, está o caldo entornado, sendo agora a vez de Pichardo, rejeitando as pazes, dizer que “agora é tarde para falarmos”.

Sentindo-se só nas críticas que fez a Pedro, talvez Nélson tenha sentido necessidade de fugir dos cutelos de lâminas finas com que o mundo do desporto o cortou, na hora da irritante maledicência .

O triste espectáculo estará terminado, Pedro, provavelmente continuará humilde, na sua senda de vitórias, e Nélson continuará vaidoso, perdendo corridas, mas conservando o que penso ser a razão da desavença: o mau carácter.

Para distinguirmos os homens, e sermos justos, veremos como Pedro reagirá quando os músculos lhe mirrarem e tiver de conviver com o fracasso.

 

(Fotos DR)

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Publicado em Opinião