De que massa são feitos?

Este indivíduo, que repetiu a façanha na Universidade, é o principal municiador do projeto xenófobo de Trump, autor ou promotor de medidas como a construção do muro na fronteira com o México, a proibição de entrada no país de cidadãos de alguns países muçulmanos, a retirada de filhos menores a imigrantes irregulares…

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  • 11:12 | Segunda-feira, 16 de Junho de 2025
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O artigo “O ideólogo de Trump trouxe de volta o seu projeto xenófobo”, de Pedro Guerreiro, no Público (10/06/2025), trouxe-me uma má memória.

Na qualidade de emigrante, trabalhei numa empresa de limpezas, na Alemanha. Trabalhei no edifício de uma seguradora com dezenas de escritórios. Um dos funcionários deixava muitos papéis, no chão, ao lado do balde do lixo. Algo lamentável, revelador de falta de educação, civismo e respeito. Até que um dia, o dito senhor, procurou a humilhação, do invisível, do empregado da limpeza, do estrangeiro, a minha humilhação. Olhou para mim, atirou o papel para o chão, ao lado do balde do lixo, e sorriu. Fiz o meu trabalho e não toquei no papel que tinha acabado de ser atirado para o chão. Foi apresentada queixa contra mim, expliquei ao meu chefe que anuiu a explicação, informou a administração, o senhor nunca mais repetiu o gesto, não voltou a saudar-me (não senti falta), nunca mais tentou humilhar-me. Um episódio pessoal que ilustra bem o que pode acontecer quando alguém se sente superior pela nacionalidade, profissão, cor da pele, género, idade, condição socioeconómica…

De que massa será feita uma pessoa destas?

Uma questão que ganha outra relevância, quando este tipo de pessoas tem poder ou pode influenciá-lo. Pedro Guerreiro apresenta o cartão de visita de um dos principais ideólogos de Donald Trump, Stephen Miller: “Há três décadas Stephen Miller despejava caixotes do lixo nos corredores do seu liceu na zona de Los Angeles para observar e insultar os funcionários que limpavam o chão, trabalhadores imigrantes pobres, proferindo discursos xenófobos.


Este indivíduo, que repetiu a façanha na Universidade, é o principal municiador do projeto xenófobo de Trump, autor ou promotor de medidas como a construção do muro na fronteira com o México, a proibição de entrada no país de cidadãos de alguns países muçulmanos, a retirada de filhos menores a imigrantes irregulares…

Como consequência destas medidas, já temos relatos de famílias portuguesas radicadas nos EUA que planeiam regressar a Portugal com medo de serem presas e ficarem sem os filhos. Trabalharam durante anos sem conseguirem legalizar-se. “Deixam-nos trabalhar, ter casa, carro e cartões, mas não nos legalizam” (Expresso, 12/06/2025).

O que pensamos nós, “portugueses” e “portuguesas”, desta situação? Queremos replicar estas ideias em relação aos imigrantes que vivem em Portugal, trabalham, têm filhos e não se conseguem legalizar por causa da ineficiência da AIMA?

A regularização é crucial, mas não pode confundir-se com repressão nem servir de alimento ao discurso de ódio. O novo Governo tem uma tarefa complexa em mãos, num contexto adverso em que o partido extremista de direita se sente como peixe na água. Sucedem-se os exemplos de violência aos quais não podemos ficar indiferentes, na esperança vã de que sejam epifenómenos irrepetíveis. Em poucos dias, o ator Adérito Lopes foi agredido quando se preparava para ir trabalhar; duas mulheres foram atacadas, no Porto, quando distribuíam comida a pessoas em situação de sem-abrigo, sendo acusadas pelos atacantes, que fizeram a saudação nazi, de serem culpadas do aumento do número de imigrantes em Portugal; o sheik Munir foi insultado durante a homenagem aos ex-combatentes no 10 de junho.

De que massa serão feitos estes agressores?

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Publicado em Opinião