O artigo “O ideólogo de Trump trouxe de volta o seu projeto xenófobo”, de Pedro Guerreiro, no Público (10/06/2025), trouxe-me uma má memória.
De que massa será feita uma pessoa destas?
Uma questão que ganha outra relevância, quando este tipo de pessoas tem poder ou pode influenciá-lo. Pedro Guerreiro apresenta o cartão de visita de um dos principais ideólogos de Donald Trump, Stephen Miller: “Há três décadas Stephen Miller despejava caixotes do lixo nos corredores do seu liceu na zona de Los Angeles para observar e insultar os funcionários que limpavam o chão, trabalhadores imigrantes pobres, proferindo discursos xenófobos.”
Este indivíduo, que repetiu a façanha na Universidade, é o principal municiador do projeto xenófobo de Trump, autor ou promotor de medidas como a construção do muro na fronteira com o México, a proibição de entrada no país de cidadãos de alguns países muçulmanos, a retirada de filhos menores a imigrantes irregulares…
Como consequência destas medidas, já temos relatos de famílias portuguesas radicadas nos EUA que planeiam regressar a Portugal com medo de serem presas e ficarem sem os filhos. Trabalharam durante anos sem conseguirem legalizar-se. “Deixam-nos trabalhar, ter casa, carro e cartões, mas não nos legalizam” (Expresso, 12/06/2025).
O que pensamos nós, “portugueses” e “portuguesas”, desta situação? Queremos replicar estas ideias em relação aos imigrantes que vivem em Portugal, trabalham, têm filhos e não se conseguem legalizar por causa da ineficiência da AIMA?
A regularização é crucial, mas não pode confundir-se com repressão nem servir de alimento ao discurso de ódio. O novo Governo tem uma tarefa complexa em mãos, num contexto adverso em que o partido extremista de direita se sente como peixe na água. Sucedem-se os exemplos de violência aos quais não podemos ficar indiferentes, na esperança vã de que sejam epifenómenos irrepetíveis. Em poucos dias, o ator Adérito Lopes foi agredido quando se preparava para ir trabalhar; duas mulheres foram atacadas, no Porto, quando distribuíam comida a pessoas em situação de sem-abrigo, sendo acusadas pelos atacantes, que fizeram a saudação nazi, de serem culpadas do aumento do número de imigrantes em Portugal; o sheik Munir foi insultado durante a homenagem aos ex-combatentes no 10 de junho.
De que massa serão feitos estes agressores?