Região Centro é a que mais perde com a pandemia

A autarquia de Viseu poderia e deveria ter um papel mais preponderante na defesa do Centro. Não basta o marketing territorial com o chavão do Centro liderante, é preciso que de facto o seja na realidade e na prática tem sido uma nulidade.

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  • 21:12 | Quinta-feira, 16 de Abril de 2020
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Esta semana a polémica reportagem da TVI fez soar as campainhas da indignação das redes sociais e uma vez mais se chegou à conclusão que Lisboa representa o País e o Porto o Norte. No meio há um território que sendo português não tem quem o represente nem pelos vistos representa algo substancial para o País e já não é de agora, no tempo do Botas de Santa Comba assim era!

Vem isto a propósito também de esta pandemia revelar dados preocupantes para quem escolheu viver nesses territórios, o Centro de Portugal, mas pouco significativos para quem lidera o combate ao Codiv-19. De acordo com os últimos dados oficiais da DGS, a taxa de letalidade do novo coronavírus na região Centro chega aos 5%, a maior em todo o país e o dobro da registada em Lisboa (2,5%). Este indicador para quem ainda não o percebeu corresponde à proporção entre o número de mortes por uma doença e o número total de pessoas que sofrem dessa doença, num determinado período de tempo – ao contrário da taxa de mortalidade, um índice demográfico que reflete o total de óbitos causados por determinada doença.

A distribuição demográfica da população, uma vez que a taxa de letalidade aumenta, de facto, com a idade pode ser uma das variáveis explicativas sendo ainda também a densidade populacional e a elevada concentração de pessoas vulneráveis em instituições as duas outras questões justificativas desse pesado facto. Comecemos pelas primeiras, taxa de envelhecimento versus densidade populacional:


Os dados oficiais mostram-nos que o Alentejo (201,2) tem uma taxa de envelhecimento superior ao Centro (196,6) embora com o triplo da densidade populacional, 78,9 contra 22,4 mas o Norte que tem uma taxa de envelhecimento ligeiramente mais baixa (156,4) tem uma densidade populacional (167,9) mais do dobro do Centro. Quanto à concentração dos grupos de risco, idosos e doentes crónicos ainda que ela possa ser maior em percentual na região Centro por motivo de menor oferta também o Norte ultrapassa o Centro em maior número de lares e IPSS´s ou Unidades de Cuidados Paliativos pelo que, aqui chegados fica em aberto a questão. Que justificará então a diferença do quadro abaixo:

Algumas zonas rurais do Centro “perderam 40% ou mais” de população nos últimos 30 anos, caracterizando-se atualmente por uma elevada proporção de idosos sobre os jovens, mas isso também aconteceu no Alentejo e no Norte. “A variação da população foi mesmo negativa em 68% dos municípios e foi positiva em apenas um terço, em 32%”, segundo o Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, do mesmo território que é muito desigual na distribuição da densidade populacional. Esta situação de “risco demográfico”, causada pela perda de residentes, acentuou-se com a emigração da população ativa nos últimos 10 anos, com a baixa taxa de natalidade e fecundidade e com o aumento da esperança média de vida, que ultrapassa os 80 anos.

O debate sobre este risco demográfico é longo, tem surgido em todas as campanhas eleitorais na boca dos políticos que se desdobram em assinalar os “múltiplos desafios ao país”, que levantam sempre a necessidade de serem criadas “políticas de promoção do bem-estar ao longo dos ciclos de vida”, não só para quem ainda vive nas zonas rurais, mas também para atrair novos residentes. O resultado dessas políticas está à vista!

À data de 15 de Abril o Norte regista 10751 infectados, Lisboa 4102 e o Centro 2629. Quanto a mortes o Norte regista 339, o Centro 136 e Lisboa 111 o que dá uma taxa de letalidade de 3,15% para o Norte, 5,17% para o Centro e 2,71% para Lisboa. Estes são os factos que se admite possam ser explicados pelas variáveis acima senão no todo em parte. Mas quem cá vive e vê com olhos de ver percebe que também o resultado do desprezo que o Centro leia-se e também todo o Interior, tem sido votado pelos sucessivos governos ao longo de várias legislaturas se estendeu aos cuidados de saúde. Nem precisaremos de recuar muito no tempo para levantarmos aqui a promessa das obras nas urgências do Hospital Distrital Tondela Viseu ou melhor ainda, do centro oncológico para a região e bastará pegar na propaganda existente nas redes sociais feita por aqueles que repetem que “não é tempo de fazer politica” e não, não deveria ser para rapidamente pelos números se perceber o que também justifica as muitas mortes no Centro. Não havendo para os socorrer quando acabarem todos também já não haverá quem se queixe.

Mas até no site oficial do SNS se pode constatar que o Centro é o fim de linha, na distribuição dos ventiladores, no número de testes de diagnóstico, etc…

O caso dos ventiladores tão necessários no combate a esta doença é paradigmático de tudo o que atrás se referiu. O quadro resumo é disso imagem perfeita

O Centro já teve no Governo ministros com peso político, ilustres deputados mas contam-se pelos dedos aqueles que se preocuparam um dia com a região e deixaram cá algum legado. Alguns ainda passam o dia a comentar ou nos pasquins locais ou nas TV’s nacionais mas ou falam baixo ou já ninguém os ouve.

A autarquia de Viseu poderia e deveria ter um papel mais preponderante na defesa do Centro. Não basta o marketing territorial com o chavão do Centro liderante, é preciso que de facto o seja na realidade e na prática tem sido uma nulidade. Também a ARS Centro é conhecida há anos por ser Coimbra e mais nada e do que se tem visto por cá como trabalho notado das autoridades de saúde os factos falam por si.

Felizmente agora temos um novo coordenador regional para a região Centro que certamente vai resolver estas assimetrias de uma penachada! Especialista em crises, nomeadamente as que envolvem os adeptos do FCP, experienciado na gestão sendo os jornais e a Justiça disso prova além de grande  visão politica visível no vídeo oportunista que já colocou na página da sua candidatura à Federação do PS em Viseu onde se pode beber inúmeras propostas de combate ao Codiv-19, conselhos de prevenção em saúde e outras normas para isolarmos, calibrarmos e embrulharmos o vírus tal como se embalam mirtilos é desta que a região baixará a taxa tão maléfica e acordará em breve banhada na esperança de um dia cheio de vida!

 

 

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Publicado em Opinião