#automutilação

    Utilizo e gosto bastante do Instagram, uma das mais populares aplicações de fotografia. Resolvi fazer uma pesquisa utilizando a Hashtag #automutilação. Resultado: 4274 publicações. Se utilizar #automutilation os resultados duplicam: 8 463 publicações. Ao efetuar a pesquisa, surgiu uma mensagem no ecrã: “Podemos ajudar? As publicações com palavras ou identificações que estejas a […]

  • 7:01 | Domingo, 14 de Maio de 2017
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Utilizo e gosto bastante do Instagram, uma das mais populares aplicações de fotografia.


Resolvi fazer uma pesquisa utilizando a Hashtag #automutilação. Resultado: 4274 publicações. Se utilizar #automutilation os resultados duplicam: 8 463 publicações.

Ao efetuar a pesquisa, surgiu uma mensagem no ecrã: “Podemos ajudar? As publicações com palavras ou identificações que estejas a procurar podem encorajar comportamentos agressivos ou violentos e podem até provocar a morte. Se estás a atravessar uma fase difícil, gostaríamos de poder ajudar.”

Surgem associadas às publicações outras palavras-chave: #selfharm #mutilation #selfhate #cut #depression #depressed #depresiv #wannadie #dead #killme #blood #cutting #suicide #sad #blade #alone #hatemyself #selfharm #cut #nobodycares #scarification #helpme #imnothing #died #iwanttodie #cortes #depressão #suicidas #solidao (…)

As imagens de corpos mutilados e as respetivas legendagens são arrepiantes, dou um exemplo: “Sabe de quantas formas e quantas vezes, pensei em morrer só hoje?”

De acordo com o estudo “Health Behaviour in School-aged Children (2014)”, realizado pela Organização Mundial de Saúde, em 45 países, 20,3% dos adolescentes portugueses entre os 13 e os 15 anos já tiveram comportamentos autolesivos o que corresponde a 67000 jovens, num universo de 31000 da faixa etária referida.

Enquanto tomava o café e lia o jornal, num café de Viseu, as mesas estão tão próximas que foi inevitável ouvir o comentário de um senhor para os amigos:

“Vocês já viram? Esta baleia azul, que jogo maluco… Mas, estou descansado porque os nossos filhos são equilibrados…podemos estar descansados, os nossos filhos estão equilibrados, não se vão meter nisso…”

O psiquiatra Daniel Sampaio, em declarações ao Expresso, afirmou: “Ninguém se automutila ou tenta suicidar-se por causa de um jogo. Quem o faz tem um comportamento depressivo, baixa autoestima, dificuldade de relacionamento com os pares e habitualmente atravessa uma fase bastante vulnerável. Por exemplo uma crise familiar ou uma rutura afetiva. A automutilação é uma forma de expressar todo esse sofrimento, substituindo uma dor psíquica indefinida por uma dor física localizada.”

Uma das series de televisão que mais sucesso faz entre os adolescentes é “13 Reasons Why”, da Netflix, e aborda temas como o bullying, a violência sexual, o suicídio… Segundo os especialistas, este tipo de programa pode levar um adolescente a pôr fim à vida.

A automutilação não é uma prática nova, há muitos anos que se registam casos de jovens que dão entrada nos hospitais devido às lesões que provocam no seu corpo. O alarme resulta do aumento do número de casos que se têm registado nos últimos anos. O jogo de que tanto se tem falado não será mais do que uma baleia num oceano, cada vez mais virtual, que não conhece fonteiras.

O alarmismo não resolve o problema e poderá, inclusivamente, contribuir para o agravar por força do efeito de contágio. Negligenciar o acompanhamento, ainda que não existam sinais de alerta, também não é uma boa solução, desde logo porque a estabilidade emocional é especialmente frágil durante a adolescência.

A melhor estratégia passará pela prevenção, diálogo, pedagogia e supervisão por parte dos Famílias com o apoio da Escola.

 

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Publicado em Opinião