Anda o diabo à solta

Julgar actos do passado com argumentos de hoje, não é sinónimo de cultura, muito menos de inteligência. Antes, de tacanhez e estreiteza. À falta de trabalho com que se entreter, lembraram-se agora estes vândalos de atentar contra a História, como se alguma vez ela se pudesse apagar.

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  • 16:16 | Sexta-feira, 12 de Junho de 2020
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Sopram ventos de intolerância e ódio, em Portugal, replicando o que se vai passando por outros países europeus e pelos EUA.

Depois da barbaridade que um policial fez a George Floyd, assassinando-o, levantou-se o mundo civilizado contra a xenofobia e o racismo. Mas, civilizado, é favor. Alguns energúmenos, desataram a vandalizar estátuas de Cristóvão Colombo em várias cidades norte-americanas. Na Europa, nem Baden-Powell, fundador dos escoteiros, escapou. A estátua, à cautela, foi retirada de uma cidade inglesa.

Como a insânia, a asneira e a cavalice não conhecem fronteiras nem carecem de salvo-conduto, chegou a vez de Portugal. Umas bestas, que outro qualificativo não merecem nem lhes assenta bem, picharam a estátua de Pe. António Vieira com a palavra “Descoloniza”. Talvez por o missionário, homem de excelência do pensamento português, ter defendido os direitos dos povos indígenas, talvez por ser contra a escravatura e a Inquisição, talvez por ter defendido os judeus, talvez por ter tratado com mestria e arte a língua portuguesa. Ou talvez por, jesuíta, ter evangelizado por terras de Vera Cruz.


Antes, outros pelos mesmos tinham vertido o igual fel sobre a estátua de Pedro Álvares Cabral, em Santarém. Talvez por ter descoberto o Brasil. Já me tinha parecido chocha a polémica à volta do Museu das Descobertas, rebaptizado de “A Viagem”, como prometido pelo edil lisboeta, submisso e medroso.

Julgar actos do passado com argumentos de hoje, não é sinónimo de cultura, muito menos de inteligência. Antes, de tacanhez e estreiteza. À falta de trabalho com que se entreter, lembraram-se agora estes vândalos de atentar contra a História, como se alguma vez ela se pudesse apagar.

A História é um património colectivo com altos e baixos, com fraquezas e forças. Com traições e conquistas. Com facínoras e homens bons. Cheguem-se à frente os puros e os ímpios. Não há volta a dar, senhores intelectuais de esquerda, donos da cultura do burgo. Os Descobrimentos e o passado colonial fazem parte da nossa História, não há volta a dar. E, já agora, qual é o problema? Vivo bem com isso. Não me incomoda nem me envergonha. O homem é ele mesmo e a sua circunstância. Com as Nações, acontece exactamente o mesmo.

Vergonha, tenho das Donas Brancas, dos Alves dos Reis, dos Miguéis de Vasconcelos, e dos descendentes que não deserdaram. Um bando de grunhos, uma horda de selvagens, uma corja de hipócritas que, pela calada da noite, assim se comporta, atentando cegamente contra antepassados, merece umas vergastadas pelo lombo abaixo, a ver se ganham tino.

Por este andar, se não lhes puserem açaimo e deitarem a mão, a seguir varre-se o chão com o Estandarte que transporta a esfera armilar, símbolo dos Descobrimentos, muda-se o Hino que exalta os “Heróis do Mar”, e deita-se abaixo a Fortaleza de Sagres, coisa que o sismo de 1755 não conseguiu por inteiro.

Venha o Ferro, o Costa e o Célinho com paninhos quentes e palavras doces, chamá-los a Belém e a S. Bento para um chá dançante. Em breve, os três, secos e azedos, morrerão às mãos sedentas de sangue e de vingança dos predadores fundamentalistas.

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Publicado em Opinião