Afinal, do que é que não sinto falta?

Há mulheres, como eu, que não sentem falta de maquilhagem e estão a olhar-se mais no espelho de cara lavada e gostam.

Texto Andreia Gonçalves Fotografia Direitos Reservados (DR)

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  • 21:32 | Quinta-feira, 16 de Abril de 2020
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Já passaram muitos dias desde que esta quarentena começou. Uma altura que me tem feito pensar, a mim e talvez a todos os leitores, nas coisas de que sentimos falta e outras que, surpreendentemente, não sentimos falta nenhuma. Como assim há coisas que não sentimos falta? De certeza que sim. Nas minhas conversas, na Internet, com os meus amigos descobri que acordar mais cedo para fazer toda a rotina, para ir trabalhar e chegar, atempadamente, ao trabalho, é algo que algumas pessoas não sentem falta. Apesar de sentirem falta do trabalho. Outras não sentem falta do stress do dia a dia, das viagens, dos quilómetros que têm de percorrer.

Há mulheres, como eu, que não sentem falta de maquilhagem e estão a olhar-se mais no espelho de cara lavada e gostam. Usar sapatos altos em casa não é preciso e os pés e a coluna agradecem, falo pelos meus. Esticar o cabelo vezes sem conta, escolher a roupa, diariamente, apenas, com uma característica: conforto…

E eu, do que sinto verdadeiramente falta? Do contacto com as pessoas que mais gosto, dos abraços aos meus, de levar o meu filho ao parque e descobrir com ele a natureza.


Mas, também descobri que há pessoas de quem não sinto falta. Talvez isso tenha sido importante aprender.

Contudo, conheço pessoas que vivem sozinhas e a solidão começa a tornar-se mais pesada ainda com o tempo a passar. É para esses que lhes peço que aprendam a desfrutar da vossa própria companhia. E no caso de acreditarem em Deus, escrevam-Lhe cartas. A resposta virá sempre no conforto dos vossos corações.

A janela é uma vista para o mundo, olhem para as linhas do horizonte e percorrem a vista, vezes sem conta. As horas são diferentes e as cores também. Pintem o vosso olhar com as cores do Mundo. Vai valer a pena!

Alberto Caeiro escreveu:

O meu olhar é nítido como um girassol. / Tenho o costume de andar pelas estradas / Olhando para a direita e para a esquerda, / E de vez em quando olhando para trás… / E o que vejo a cada momento / É aquilo que nunca antes eu tinha visto, / E eu sei dar por isso muito bem… / Sei ter o pasmo essencial / Que tem uma criança se, ao nascer, / Reparasse que nascera deveras… / Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do Mundo…”

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