O sargento Melo, sem obra de relevo para exibir ao povo que não vislumbra guerra no imediato, decidiu a despesa de 5.8 mil milhões de Euros, sem concurso público e em segredo, o maior investimento dos últimos cinquenta anos na Defesa.
Assim rezam as notícias, sem lugar a desmentido oficial, ausência que indicia veracidade.
De peito insuflado com o inesperado aumento de 22.3% no orçamento do ministério, que lhe permite exibir “obra”, destila importância e vaidade, sente-se útil e indispensável. Encontrou no ministério a glória dos que, escondendo ambições, parece satisfazerem-se com poucochinho e serem feitores do seu quintal.
De sorriso cínico e com um ameninado ar de troça, aparece nas festas e nos grandes anúncios, deixando para os amanuenses a despesa dos maus momentos.
Enquanto isso, o sr. Mark Rutte discursando em Berlim, pediu aos países da NATO que “intensifiquem os esforços de defesa”. Quando o povo, que aplaude em silêncio, subscrevendo tacitamente o investimento desmedido na Defesa e aceitando os rios de dinheiro que correm para um conflito sem fim à vista – rendimento seguro da indústria da guerra e do comércio da morte -, se der conta de que este reforço só é possível com uma subtracção de dinheiros às rubricas tradicionais e a um desinvestimento no Estado Social, talvez perceba que os decisores europeus, afundados nos sofás, afastados do dia-a-dia e com uma legitimidade questionável, estão a prejudicar a esperança que lhes é devida. Porque o poço haverá de ter fundo, é isso que vai acontecer. Talvez aí muita solidariedade feneça, muito altruísmo diminua, muita ideologia se desequilibre.
Mudanças não são antecipáveis, nada as augura. O fruto está podre. E que tanto esforço de guerra vai dar para o torno tomo como seguro. Tudo irá ser pago com língua de palmo, privações e provações. Os discursos melodiosos não podem ludibriar quem tiver a pele dura.
Aguardemos.
Rebelo Marinho