Montenegro mostra-se um político igual aos demais, ritualizado, rotineiro, previsível, sentado numa teimosia feroz, quase patológica, fingindo não ver o que de tão mau, lento e penoso, passa à frente dos seus olhos.
Entretanto, os comentadores criaram um mito, que não vem escrito em nenhum manual de Ciência Política, e que dá lastro a quem governa: um PM não remodela sob pressão, e muito menos a pedido da oposição.
Apoiados nessa bengala de plástico os PMs insistem e resistem, surdos ao ruído que cresce, indiferentes ao incómodo que lavra, alheios à vergonha que ruborece.
Acontece, porém, que os políticos, no juízo de que são detentores de um saber acima da média, pensam que ceder é mau, sinal de fragilidade; no entendimento fátuo de que um líder não pode dar parte de fraco, prosseguem com opções condenáveis, só suportadas em sonhos pueris de adolescente rural.
Os políticos, principalmente os governantes, vivem numa cápsula jacksoniana, que os separa do mundo real e lhes garante um isolamento conveniente. Sim, isto é sobre a ministra da Saúde, a quem tudo acontece, senhora que atrai desgraças e azares. Um íman que chama factos obtusos e episódios inusitados, que, se não fossem dramáticos, seriam risíveis. Anedóticos.
Ir à bruxa talvez seja conselho avisado, para lhe expurgar o mal ou arrancar o dessaber. Municiar-se de cornos de javali, água de enxofre, sapos luzidios, ossos de vaca e urina de rato.
Há pessoas assim. Imbuídas das mais puras intenções tudo lhes sai ao contrário. Não têm conserto, convém apenas que não lhes atribuam responsabilidades de maior, que não mexam com a vida das pessoas, por exemplo.
A senhora, na sua dignidade humana e até profissional, não tem culpa de ser inábil para a função, absolutamente incapaz de gerir nau tão complexa e instável, portando-se como uma tarafeira contrariada. A ministra é desajeitada e errante. De tantos disparates ter coleccionado, mais parece os bonecos da barraca dos tirinhos, furados e tortos. Decide pouco, e quando decide, decide mal. Já não são só azares, são sucessivos tiros nos pés.
Na comunicação, não é cristalina, engasga, tropeça, confunde. Veste um ar desistente, compungido, defuntado. Tudo na senhora é mortiço. Fosse produto e nem nos saldos sairia dos cabides e das prateleiras.
Nas decisões, não inspira credibilidade, não desperta confiança. E esta é o maior capital de um governante. Sem ele, tudo é ninharia e minudências, coisas de botar fora.
Por vezes, os políticos andam de asneira em asneira, repetindo o erro e o fracasso, como inimputáveis de serviço. E o grande oficialato da Saúde, omisso e cúmplice, está de baixa médica, esperando a sua vez, numa expectativa macabra.
Montenegro, de tanto insistir na figura, talvez faça dela uma mártir.
Rebelo Marinho