A estranha política ‘cá do sítio’

Sem grande novidade, mas para que fique registado, em pleno século XXI, na ‘era da comunicação’, ainda existem câmaras municipais que não disponibilizam as suas atas de forma acessível a qualquer pessoa; que recusam adotar meios fomentadores de uma maior transparência e abertura à sociedade, como a transmissão em direto das Assembleias Municipais; que editam “boletins municipais”, sem espaço para a oposição, que mais não são do que boletins de campanha eleitoral onde, por obséquio, não consta o emblema partidário.

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  • 12:55 | Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2021
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O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses.”

Este é um excerto do Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago. É também uma acutilante descrição no papel assumido por muitos dos executivos camarários que nos são próximos. Tristemente, com demasiada facilidade se traça um paralelo entre as palavras de Saramago e o espírito dominante na política ‘cá do sítio’.

Os cargos políticos de eleição, são, infelizmente, mais vistos como trampolim para um qualquer outro interesse, como enriquecimento curricular, como requisito para abrilhantar o ego, quando a política, por definição, deveria servir os grupos sociais, as gentes, e não os egos e interesses individualistas de uns poucos.

É necessário, em ano de eleições autárquicas, questionar, repensar e propor novas formas de governação das autarquias locais, que numa excessiva quantidade de casos devem ser alteradas no sentido de uma maior democratização e transparência.


Sem grande novidade, mas para que fique registado, em pleno século XXI, na ‘era da comunicação’, ainda existem câmaras municipais que não disponibilizam as suas atas de forma acessível a qualquer pessoa; que recusam adotar meios fomentadores de uma maior transparência e abertura à sociedade, como a transmissão em direto das Assembleias Municipais; que editam “boletins municipais”, sem espaço para a oposição, que mais não são do que boletins de campanha eleitoral onde, por obséquio, não consta o emblema partidário.

Metodologias de funcionamento mais transparentes e acessíveis, são um dos caminhos que necessariamente têm de ser trilhados para prevenir e combater a corrupção legal mas também ética, dos que utilizam um cargo de representação e serviço público em prol de interesses que apenas servem a uma pequena amostra.

Acesso mais claro a concursos públicos, ajustes diretos, elaboração de planos e programas, candidaturas a fundos públicos, contratação de pessoal, por exemplo, é necessário, para uma vida política local mais envolvente, participada e democrática.

Informação ausente da esfera pública e acesso extremamente dificultado a documentação, são fatores, obviamente, favoráveis à corrupção, nomeadamente em processos de concursos públicos ou de contratação e que geram, legitimamente, descrença por parte da população.

O interesse público, a vida das pessoas, tem ficado refém de interesses pessoais demasiadas vezes. O favorecimento de certas empresas, o ignorar de certas ilegalidades, a decisão de certas adjudicações… Os poderes ocultos que movem a governação autárquica são o início da descredibilização e falta de confiança na política.

O combate à corrupção na esfera local tem de ser uma prioridade, restabelecendo o valor da democracia, o governo do povo, essencial à coesão, à igualdade e à dignidade de todas as pessoas.

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Publicado em Opinião