51 mil euros num sábado, não será demasiado?

De concreto e sem querermos entrar por vias ziguezagueantes e demagógicas, o esforçado cidadão comum português, trabalhando 8 ou mais horas por dia, ganhando o salário mínimo nacional em vigor desde 2025, recebe 10.440 euros ilíquidos por ano. O que, grosso modo, nos diz que para ganhar os 51 mil euros de umas horas de um sábado ganhos por este dermatologista, precisaria de labutar durante 5 anos.

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  • 15:28 | Quarta-feira, 28 de Maio de 2025
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Num país onde grande parte da população tem dificuldade em ganhar 870 € brutos por mês, o que dá uma média de 29 € ilíquidos por dia, causa bastante perplexidade sabermos que um dermatologista do maior hospital público do país – o hospital de Santa Maria, em Lisboa – a realizar cirurgias maioritariamente de remoção de quistos e sinais benignos ganhou 51 mil € num sábado, por umas horas de intervenção.

Este tipo de cirurgias é incluído no programa SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia) e, pelos vistos, padece de uma eventual falta de controlo que permite situações polémicas, como esta.

O médico em causa terá facturado em dez sábados mais de 400 mil euros.


Provavelmente terá um assombroso ritmo e capacidade de trabalho que decerto também terá no seu horário semanal normal. Ou não? Será que esta capacidade operatória só sucede aos sábados?

O presidente do Conselho de Administração do Santa Maria, Carlos Martins, questionado sobre o assunto mostrou estranheza perante os factos. O que, em boa verdade, sendo ele o responsável máximo pela administração da ULS Santa Maria, causa é estranheza ao cidadão comum.

Carlos Martins, licenciado em Relações Internacionais pela U. do Minho, foi secretário de estado da Saúde no governo de Durão Barroso e substituiu a actual detentora da pasta da Saúde, Ana Paula Martins no cargo de PCA.

Serão estas situações extensivas a outras USL?

Há alguma opacidade neste concreto contexto, ninguém ignorando que as USL gerem inúmeros milhões de euros por ano. Situações deste tipo e teor justificarão parcialmente o descontrolado sorvedouro de dinheiros públicos? Estarão tão normalizadas que se tornaram prática comum, ou são casos excepcionais, isolados e sem duplicação noutras estruturas de saúde pública?

De concreto e sem querermos entrar por vias ziguezagueantes e demagógicas, o esforçado cidadão comum português, trabalhando 8 ou mais horas por dia, ganhando o salário mínimo nacional em vigor desde 2025, recebe 10.440 euros ilíquidos por ano. O que, grosso modo, nos diz que para ganhar os 51 mil euros de umas horas de um sábado ganhos por este dermatologista, precisaria de labutar durante 5 anos.

Sem querer comparar a eficácia, especialização e alcance do trabalho de cada um, há aqui algo de obsceno em termos sócio-laborais. Mas há mais, há um sistema que o permite, conselhos de administração que não o veem e auditorias que o branqueiam.

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Publicado em Opinião