Ventura pendular

Acerca da viabilização do novo governo dos Açores foi claro: “O PPM creio que teve 2% dos votos, ou alguma coisa parecida. Nós tivemos quase 6%. Quem deveria estar no Governo seríamos nós, mas nós não quisemos”, conclusão do líder que há poucos dias no Congresso enfatizava:"Enquanto eu me sentar naquela cadeira ali do meio - coligações nem vê-las!”.

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  • 11:55 | Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020
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Começa a perceber-se que a pendularidade circunstancial pode ser um dos traços de carácter do líder do Chega.

Tanto acarinhava os imigrantes numa qualquer tese de seus estudos, como deles fazia fonte de inúmeros males.

Tanto estava de braço dado com as forças de segurança, quanto as acusava de repressivas violências.


Tanto condenou os homossexuais como os aceita.

Tanto recusa alianças com outros partidos como as fez nos Açores.

Etc.

Agora, numa bem conduzida entrevista dada à Lusa, de novo reviravolteia e até critica Salazar “que não resolveu os problemas do país” e “atrasou-nos muitíssimo em vários aspetos. Não nos permitiu ter o desenvolvimento que poderíamos ter tido, sobretudo no quadro do pós-II Guerra Mundial. Portugal poder-se-ia ter desenvolvido extraordinariamente e ficámos para trás, assim como os espanhóis”.

E vai mais longe ao afirmar: “Vejo Salazar como vejo outras figuras da História. Não vou fazer juízos de qual é melhor ou pior: se Salazar ou Cunhal ou Hitler ou Estaline.”

Não obstante, e ao que a Lusa refere, teve o cauteloso cuidado de antes de começarem a filmar a entrevista, mandar retirar livros sobre Salazar que estavam na estante de pano de fundo, entre outros e a imagem da Nª Sª de Fátima.

Sobre o seu heterogéneo eleitorado confessou: ”O Chega tem zonas do país onde os militantes vêm predominantemente do espectro esquerdo, como Setúbal, Beja, Évora, Portalegre. Em Portalegre, é o segundo ou terceiro em termos de sondagens. O nosso eleitorado ali veio do PCP, do BE, algum do PS e, como acontece em todo o lado, do PSD e CDS”.

Sai em defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo, frisando que “não teria qualquer problema em ter um filho homossexual”, discordando do programa do Chega que é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, frisando “Estou em crer ― não tenho dados sobre isso ― que o Chega tem homossexuais entre os seus milhares de militantes. Entre os dirigentes, eventualmente. E quero que continue a ser assim. “

Sobre o aborto mostrou-se também discordante das linhas programáticas do seu partido: “Sempre disse que, eticamente, compreendo e sou contra o aborto, mas não vou propor a sua criminalização, porque não funciona, não resolve. Compreendo que a maioria no partido ache que deva ser crime, mas choca-me enquanto jurista e político”.

Acerca da viabilização do novo governo dos Açores foi claro: “O PPM creio que teve 2% dos votos, ou alguma coisa parecida. Nós tivemos quase 6%. Quem deveria estar no Governo seríamos nós, mas nós não quisemos”, conclusão do líder que há poucos dias no Congresso enfatizava:”Enquanto eu me sentar naquela cadeira ali do meio – coligações nem vê-las!”.

No caso das eleições presidenciais foi também firme ao reiterar que abandona a liderança do Chega caso venha a ter menos votos do que a candidata Ana Gomes: “Sim, evidente, eu quando digo as coisas é para manter.”

Nem esperávamos outra coisa…

 

Nota: Fonte da entrevista Agência Lusa

(Foto DR)

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