Uma História feita pelos "politiqueiros" sem história

Aqui em Viseu, como mero e referencial exemplo, faz-se história quotidianamente. Basta lembrar ao fulano da kultura e, de imediato, chamado um dos “estoriadores” de serviço, se torna a Feira Franca na mais antiga de Portugal (o que é falso), se descobrem mais uns vestígios da Idade da Pedra (logo tapados), mais uma aventura bizarra […]

  • 13:09 | Domingo, 25 de Agosto de 2019
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Aqui em Viseu, como mero e referencial exemplo, faz-se história quotidianamente.

Basta lembrar ao fulano da kultura e, de imediato, chamado um dos “estoriadores” de serviço, se torna a Feira Franca na mais antiga de Portugal (o que é falso), se descobrem mais uns vestígios da Idade da Pedra (logo tapados), mais uma aventura bizarra do 1º rei de Portugal ou uma mítica façanha do rei das Vírias.

Provavelmente deveriam ler algumas crónicas de Fernão Lopes, o pai da História portuguesa fundada em conceitos hoje tão arredios, tais como Verdade e Imparcialidade. Mas isso era querer de mais…


Tudo serve a estes “tipinhos” para dar nas vistas. É preciso criar factos, políticos e/ou outros que lhes dêem a visão que julgam merecida e serve para atrair os holofotes e iluminar o neurónio já quase fundido.

Não resisto, com a devida vénia, em transcrever da obra “Espelhos – Uma História Quase Universal”, do genial Eduardo Galeano (ed. Antígona), este pequeno extracto bem evidente da despudorada falácia a que os políticos deitam mão, circunstancialmente, para servir seus interesses:

Fundação da Universidade

Na época colonial, as famílias brasileiras que podiam dar-se a esse luxo mandavam os filhos estudar para a universidade de Coimbra, em Portugal.

Mais tarde, criaram-se no Brasil algumas escolas para formar doutores em Direito ou em Medicina. Poucos doutores, porque eram poucos os seus possíveis clientes num país onde eram muitos aqueles que não tinham quaisquer direitos, nem outra medicina além da morte.

Universidade não havia.

Mas em 1922, o rei belga Leopoldo III anunciou a sua visita ao país e tão augusta presença merecia o título de doutor honoris causa, que só uma instituição universitária podia atribuir.

Para isso nasceu a Universidade. Foi inventada à pressa, no casarão ocupado pelo Instituto Imperial dos Cegos. Lamentavelmente, não houve outro remédio senão expulsar os cegos.

E assim o Brasil, que deve aos negros o melhor da sua música, do seu futebol, da sua comida e da sua alegria, pôde doutorar um rei cujo único mérito era ser o herdeiro de uma família especializada no extermínio dos negros no Congo.

Paulo Neto

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