Um ministro ilusionista?

  “Cheguei a surpreender considerar com que brandura, com que resignação, e talvez com que secreto alívio os humanos consentiram na sua própria extinção.” Michel Houellebecq, As Partículas Elementares (Relógio d’Água, 2013)   Paulo Macedo parece um ilusionista a tentar fazer crer aos portugueses que o SNS está bem, recomenda-se e que as culpas são […]

  • 11:04 | Quinta-feira, 10 de Julho de 2014
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“Cheguei a surpreender considerar com que brandura, com que resignação, e talvez com que secreto alívio os humanos consentiram na sua própria extinção.”
Michel Houellebecq, As Partículas Elementares (Relógio d’Água, 2013)
 
Paulo Macedo parece um ilusionista a tentar fazer crer aos portugueses que o SNS está bem, recomenda-se e que as culpas são dos malandros dos médicos, dos enfermeiros, dos malfeitores dos sindicatos e do maquiavélico bastonário da Ordem…
Claro, caro ministro! Onze milhões de portugueses são uns idiotas iludidos e o caro ministro é que sabe da poda, é quem tem razão, é que alcança longe.
Todos nós, aqueles que temos de recorrer a uma urgência hospitalar, somos umas bestas quadradas, mal habituados, mimados, cegos, surdos e mudos.
As subidas das taxas moderadoras e a subida das consultas, ao aumentarem mais de 100% foram um benefício fantástico. Principalmente para a população mais idosa e carenciada. A extinção de serviços de saúde foi um acto muito louvável. O encerramento de extensões de saúde foi maravilhoso, nomeadamente no interior. Mas o cerne da questão está nas reivindicações da classe, administradores hospitalares, médicos, enfermeiros, administrativos, auxiliares que se queixam de falta de recursos técnicos e materiais, falta de recursos humanos, excesso de utentes desviados dos centros encerrados e etc.
O caro ministro veio dos impostos e naturalmente há-de ser excelente em matéria de cobranças. Aliás, é o que todos os membros deste governo fazem com exclusiva e inquestionável competência. Ninguém dúvida. Agora na saúde, quando se lida com a maior fragilidade do ser humano, com o bem mais essencial e vital, reservar a perspectiva a um caso fortuito e simplista de números, poderá traduzir-se, in extremis, na redução drástica da população nacional…
Todos nós percebemos que o desmantelamento progressivo do precioso SNS é uma estratégia ditada pelos mercados-patrões e inserida nas linhas base de um neo-liberalismo desabrido, de destruição do serviço público para favorecimento do privado.
Os utentes também já o começaram a perceber, nomeadamente aqueles que ainda têm algumas posses, uma ínfima parte da população, e, como já se passa em Viseu, vêm autocarros de clínicas privadas situadas no Norte, buscar os “clientes” que já não vêem salvação nos serviços hospitalares localmente situados.
Caro ministro, quanto tempo mais precisa para a destruição total do SNS? A este bom ritmo, em menos de um ano teremos funeral?
 
Os Tribunais encerram, mas é para a melhoria da Justiça.
As Escolas encerram, mas é para a melhoria do Ensino.
As repartições públicas encerram, mas é para a melhoria da prestação de serviços administrativos.
O cinismo desta “langage de bois” é tão mais grave quanto lesivo e, na tentativa de caucionar de nobre a vileza dos actos, ainda nos faz passar por imbecis.
Qual a lógica e a razão de pagarmos impostos a um Estado que nada dá em troca?
Ah, a bem da ecologia vêm aí este mês mais impostos sobre os combustíveis…
 
(foto DR)

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Publicado em Editorial