Quem vende o céu às antenas?

  Uma ermida é um templo construído no mais alto monte. Dois motivos centrais ditariam esta localização: o isolamento para o eremita e a proximidade ao Céu, como as grandiosas torres das de outrora catedrais góticas. Raro é o concelho que não tem suas ermidas. Alguns até com duas, três, quatro… Lembro o S. Macário, […]

  • 10:48 | Segunda-feira, 11 de Agosto de 2014
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Uma ermida é um templo construído no mais alto monte. Dois motivos centrais ditariam esta localização: o isolamento para o eremita e a proximidade ao Céu, como as grandiosas torres das de outrora catedrais góticas.
Raro é o concelho que não tem suas ermidas. Alguns até com duas, três, quatro…
Lembro o S. Macário, lembro a de Nossa Senhora do Castelo, lembro a Senhora da Ouvida, lembro a Senhora das Necessidades e poderia enumerar mais um sem número delas.
Axis mundi de uma religiosidade muito crente, centro de devoção e culto, representam, também, a História do Cristianismo no nosso território.
Hoje, talvez três em cada cinco ermidas ostentam as suas novas “cruzes”. São as antenas despudoradas e ostensivas das operadoras móveis: Tmn; Vodafone; Optimus et all
Sabemos que a Fé dessas empresas se adora numa ara onde o cifrão pontifica. É natural e compreensível.
Não é natural nem compreensível que a entidade detentora dos locais venda, como o vendilhão no Templo, a espiritualidade à cupidez material!
Hoje, por um punhado de lentilhas tudo se compra, tudo se vende. Até e mesmo os locais de culto de antanho. Há uma mensagem subliminar neste acto: Aqui não é lugar de oração, de penitência, de devoção, de fé. Aqui é mercado de venda ao que mais paga de um espaço que deveria ser menos profano e mais sagrado.

A Igreja que tanto investe no Santuário da Lapa que atrai milhares de peregrinos e, agora, no “pecadómetro” e recuperação da Casa de Madre Rita devia ser menos hipócrita e acautelar os bens que lhe caíram do Céu pelo esforço e obra de Homens crentes.
Vender as ermidas ao “Diabo” por um punhado de euros é negócio que qualifica os negociantes! Sejam eles quem for. A Igreja não é insusceptível de críticas enquanto os seus vigários se renderem à cupidez do lucro fácil. Talvez aí resida a explicação, no descrédito que alcançaram, da crescente falta de “público”…
A Igreja, em Portugal, tem uma História de grandeza e de tristeza. A grandeza foi a dos grandes construtores movidos por uma fé inabalável. A tristeza foi a de uma tenebrosa Inquisição, de um encosto crónico ao poder instituído, seja central, seja local e… agora, a tristeza de ver o Céu vendido… a quem mais der.

Que me refute quem sobre o assunto mais do que eu souber.


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