Passos perdido(s)?

Ontem, como se de um “flash” se tratasse, Passos Coelho reapareceu, palestrou e colheu os grandes elogios – dizem que premonitórios – do presidente da República, que muito lhe gabou o passado e anteviu aspicioso futuro.

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  • 10:38 | Quarta-feira, 01 de Março de 2023
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Desde a tragédia em que redundou a batalha de Alcácer Quibir que os portugueses ficaram órfãos. Orfãos de um Messias que os iluminasse, que os conduzisse que os pastoreasse…

O sebastianismo tornou-se mito, e como “o mito é o nada que é tudo”, segundo Pessoa, que ademais escrevia: “Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da humanidade”, o mistério passou a fazer parte da lusíada existência.

Muito bem, não tivemos D. Sebastião, para sempre pedido nos areais pantanosos do norte de Marrocos, mas vieram logo de seguida os “primos” espanhóis governar-nos por 60 anos (1580-1640). Um mal nunca vem só, pois “de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos”.


Até aos nossos dias, de Sidónio Pais a António Salazar, foram surgindo, envoltos no seu manto nevoento, outros Messias.

Os portugueses projectam sempre as suas esperanças no que há-de vir. Mesmo que seja para depois o vituperarem e almejar por novo Sebastião.

Passos Coelho, o novo Messias do PSD, afastado das lides políticas por quase uma década, reservou-se a um silêncio intimista, a um recolhimento monástico, a um afastamento distante.

Porém, agora, cedendo ao impulso do retorno (“O bom filho à Pátria torna”, diz o povo), tem “andado por aí”, na célebre frase de um seu antecessor, o efémero PSL, que alguns julgaram ser a sigla de Puro Sangue Lusitano.

Ontem, como se de um “flash” se tratasse, Passos Coelho reapareceu, palestrou e colheu os grandes elogios – dizem que premonitórios – do presidente da República, que muito lhe gabou o passado e anteviu auspicioso futuro.

Agastado, no meio de abraços pungentes, Montenegro saiu do evento de sorriso crispado, sem palavras aos jornalistas, premente em afastar-se do local.

Se tivéssemos dotes adivinhatórios, neste país de tantas Sibilas, diríamos que Passos Coelho caminha, para já ao pé-cochinho, para Belém.

Certo foi que a sua presença no Grémio Literário atraiu e determinou o foco mediático, obnubilando (como dizia o outro que gostava de falar caro) tudo em seu redor, projectando sombra sobre Montenegro e quase fazendo esquecer Marcelo.

De facto, com os sucessivos desaires políticos do actual governo, com o aumento exponencial do descontentamento, e emergindo no horizonte próximo quatro decisivas eleições…

Maio ou Junho de 2024 – Eleição dos Deputados ao Parlamento Europeu;

Setembro ou Outubro de 2025 – Eleições Autárquicas;

Janeiro de 2026 – Eleição do Presidente da República;

Setembro ou Outubro de 2026 – Eleições legislativas.

… naturalmente que as duas primeiras condicionarão muito as duas últimas e, para chegar a 2026, a estrada tem que começar a ser trilhada.

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