O trunfo e o triunfo da mentira

Se a mentira tem perna curta e, a médio prazo, é denunciada ou esclarecida, facto será que entretanto, nesta era do efémero, do instantâneo, do acriticismo e da “amnésia”, quando a verdade vem ao de cima já os objectivos do mentiroso foram plenamente atingidos.

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  • 10:33 | Quarta-feira, 22 de Fevereiro de 2023
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“A mentira nunca é inocente” Albert Camus, “Calígula

 

O dia de ontem assemelhou-se ao 1º de Abril, Dia das Mentiras. Mas, em boa verdade, mal se reparou, pois hoje a verdade atravessa uma imensa crise de desvalorização da sua essência, sendo até frequentemente superada pela mentira, na sua validação global.


A mentira, que no dizer de Camus, “nunca é inocente” tornou-se um meio de acção, nomeadamente na boca de muitos políticos. O campeão da mentira e do “fake”, nesta década, foi/é Donald Trump que tem seguidores a nível de outros chefes de estado, como Bolsonaro, Putin, etc. Com eles, a mentira alcançou um patamar de banalização antes inimaginável. Há até quem chame à mentira “factos alternativos” (uma assessora de imprensa de Trump), por eufemismo, tentando afastar-se do conteúdo semântico que durante séculos condenou a mentira como uma grave falta sem perdão.

Actualmente, as mentiras, as “fake news”, em contexto político não passam de “manipulações informacionais” tão vulgarizadas que se tornaram pelo excesso de uso e pela projecção mediática de quem as profere, plenamente justificadas. Ademais, eficazes. Veja-se o caso do Brexit, tenha-se em consideração a eleição de Trump… Mas, se recuarmos um pouco e sem sermos exaustivos, Staline, no seu afã de reescrever a História a seu gosto e contento não mandava refazer documentos, apagando-lhes a verdade e não mandava falsificar fotografias eliminando todos aqueles que nelas constavam e que, por um motivo ou por outro,  haviam caído em desgraça?

 

(Foto Chris DELMAS / AFP)

 

Por detrás de um mentiroso compulsivo poderá estar um mitómano. O que é a mitomania? A mitomania é uma doença do foro psiquiátrico e o mitómano é alguém com uma tendência compulsiva a contar “patranhas” e a inventar histórias. Mas não o confundamos com aqueles para quem a mentira é intencionalmente usada, de forma perversa, para atingir um determinado e vil fim ou objectivo. Nalguns políticos, contudo, o uso recorrente da mentira pode tornar-se um contínuo delírio quando, eles próprios, pela sua eficácia, começam a acreditar piamente nela, num afastamento cada vez maior da realidade factual que lhes é adversa.

Se a mentira tem perna curta e, a médio prazo, é denunciada ou esclarecida, facto será que entretanto, nesta era do efémero, do instantâneo, do acriticismo e da “amnésia”, quando a verdade vem ao de cima já os objectivos do mentiroso foram plenamente atingidos.

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