Os "cobradores de fraque"…

  Algo está grave e irreversivelmente gangrenado num país onde o fisco, entre Janeiro e Julho deste ano, emite 2,289 milhões de ordens de penhora no valor de 128 milhões de euros; onde são penhoradas 759 reformas/dia perfazendo 118 mil euros/dia; onde nos três primeiros meses deste ano, o Centro Nacional de Pensões penhorou 21.904 […]

  • 10:11 | Quinta-feira, 18 de Setembro de 2014
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Algo está grave e irreversivelmente gangrenado num país onde o fisco, entre Janeiro e Julho deste ano, emite 2,289 milhões de ordens de penhora no valor de 128 milhões de euros; onde são penhoradas 759 reformas/dia perfazendo 118 mil euros/dia; onde nos três primeiros meses deste ano, o Centro Nacional de Pensões penhorou 21.904 pensões, num valor de 6,1 milhões de euros e a Caixa Geral de Aposentações outras 21.904, num montante de cerca de 4,4 milhões de euros. Desde 2011 a Março de 2013 foram penhoradas mais de meio milhão de reformas.
Não somos apologistas do incumprimento, mas, mesmo tentando perceber que é um efeito nefando com causas muito diversas e claras, é um acto tão ostensivamente não-afectivo, impiedoso e cruel que nos deixa a pele arrepiada. Hoje são estes reformados. Amanhã, seremos nós.
Sabendo que estes milhares de pensões penhoradas são devidas a factores tais, como pais e avôs que foram fiadores de filhos e netos agora desempregados, a arcarem com as responsabilidades do aval dado, com agregados familiares que, num ápice, passaram de dois para cinco e seis elementos, a viverem à custa da mesma e única reforma de cidadãos aposentados que, de repente, fruto de tanto “corte solidário” para com o governo, com o custo de vida a disparar em flecha e com um salário a emagrecer mensalmente, perderam a capacidade económica de dar resposta aos mais básicos compromissos financeiros assumidos, tais como a renda ou empréstimo da casa, o pagamento de impostos ou até o mero pagamento do telefone… Mesmo sabendo isso tudo…
Dantes, de cega sabíamos a Justiça. Agora sabemos que também o é o fisco português.
Fisco português que numa atitude que se conjectura inconstitucional, ilegal e claramente sem precedentes, se tornou, a troco de uma comissão de 30 ou 40%, o “cobrador de fraque” de empresas privadas, tais como as que exploram as auto-estradas e os transportes colectivos urbanos. E o que mais adiante se verá…
A tutela, na ganância desmedida ou cupidez alarve, além de fechar as repartições públicas, de lhes tirar os parcos recursos humanos, põe o sector a trabalhar em sobrecarga para o privado, visando arrecadar mais uns milhões. Depois constatamos os entupimentos e as bichas. Rapidez… só nas penhoras!
Com uma máquina destas, assim oleadinha, coerciva e autocrata, não há reforma – qualquer dia dos próprios pais dos cobradores – que resista a tanta e tão insensível perseguição e desumanidade.
É esta a política de Coelho que, não é por acaso, duplicou o número de guarda-costas pessoais nos últimos tempos… Ele sabe o que anda a fazer e quão dolosos são seus actos!
 

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Publicado em Editorial