O primeiro-ministro e o meu burro Noé… (1)

  Este primeiro-ministro y sus muchachos têm demonstrado arrogância, conflitualidade, asinina teimosia, persistência na ilegitimidade mas, também, muita cobardia. Só essa cobardia explica que Passos Coelho tenha aproveitado o último dia de AR em funções, antes das férias, para fazer aprovar pela sua maioria cega, mais um conjunto de cortes salariais nas pensões e na […]

  • 14:26 | Quarta-feira, 30 de Julho de 2014
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Este primeiro-ministro y sus muchachos têm demonstrado arrogância, conflitualidade, asinina teimosia, persistência na ilegitimidade mas, também, muita cobardia.
Só essa cobardia explica que Passos Coelho tenha aproveitado o último dia de AR em funções, antes das férias, para fazer aprovar pela sua maioria cega, mais um conjunto de cortes salariais nas pensões e na função pública. Que já havia sido apresentado e reprovado em Maio passado.
Mais, fá-lo em período de férias judiciais, numa habilidade finória para apanhar o Tribunal Constitucional parcialmente ausente e ainda exigindo “resposta breve”.
Recordamos que os magistrados do Tribunal Constitucional já chumbaram, por mais que uma vez, medidas neste âmbito contextualizadas, proveniente de um governo, que não respeita a Lei, antes quer ter uma Lei que se vergue às suas inconstitucionais arremetidas e posições de confronto com a Lei das Leis.
 
 
Quando eu era miúdo tive um burro que me foi oferecido pelo Sr. Afonso Pragueiro, reputado negociante de gado do concelho de Sátão. De tão tamanhinho me ter chegado a casa, alimentei-o a biberão, cobri-o com um cobertor cor-de-rosa bébé e arranjei-lhe um fofo leito de fina palha num estábulo da Quinta das Vigárias.
De tanto mimo, tão manhoso se tornou que se dava ao luxo de só sair da “loja” se o tempo lhe agradasse e não havia rogo ou empurrão que o decidisse. Ao fundo galopava como um puro-sangue e ao cimo engonhava como uma lesma, com a agravante de, por ter percebido que o cavaleiro montava de calções, a pernita ao léu, encostava a todas as silvas do caminho, deixando-me de gâmbia a sangrar. Manhoso, o Noé, de seu bíblico nome impante. E mais, só comia o que e quando lhe dava na gana e a fome apertava.
Estragado com mimos, tornou-se impune e alheio a ameaças e/ou chibata, à qual respondia orneando grosso e disparando coice baixo a força lesta e letal dos curvilhões traseiros. Piorou com a idade, o Noé. Aprendeu a sair sozinho do estábulo e a passar as noites farfando e moinando por tudo que era proibido sítio. E se os largos hectares da Quinta das Vigárias não lhe chegavam, dava-se ao ripanço em tudo que era boa horta de estimado vizinho. O Noé tornou-se um pesadelo. Só fazia asneiras, causava prejuízos diários e perdera qualquer préstimo e vergonha. Tentou-se vendê-lo. Ninguém o quis. Finalmente, levou-o dado uma trupe de ciganos. Passado um mês, mais magro, escanzelado e mal-criado, o Noé veio devolvido à precedência. Os ciganos agradeciam muito, mas… já lá tinham burros “cabonde”!
E a história fica por aqui – não teve um happy-end… –  reflectindo eu que a mente humana é um labirinto de perdição. Vejam, lá como comecei a escrever sobre Passos Coelho e me remato, a peso de memória, com as arteirices do Noé… O povo tem razão: a conversa é como as cerejas!
 

  1. Qualquer coincidência entre o teor da primeira e da segunda parte deste texto é… mera coincidência e fruto de uma memória que o tempo ainda perdura fresca e fértil. Aliás, tenho uma antipatia natural por Passos Coelho e uma afável simpatia pelo Noé. Logo, não há comparação possível, só passível de se alojar numa mente pérfida e confusa.

 
 


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