“Ó pá, estou de férias!”

  Ontem, as câmaras da televisão mostravam um cidadão, que por acaso e desgraça é primeiro-ministro de Portugal, de calções, a ir descontraidamente para a praia e, muito agastado com os jornalistas, questioná-los abruptamente: “Pá, um tipo já não pode ter férias descansado?” Mais, o mesmo cidadão convocou e fez, durante o fim-de-semana, um conselho […]

  • 10:34 | Terça-feira, 05 de Agosto de 2014
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Ontem, as câmaras da televisão mostravam um cidadão, que por acaso e desgraça é primeiro-ministro de Portugal, de calções, a ir descontraidamente para a praia e, muito agastado com os jornalistas, questioná-los abruptamente: “Pá, um tipo já não pode ter férias descansado?”
Mais, o mesmo cidadão convocou e fez, durante o fim-de-semana, um conselho de ministros “pirata” via virtual (talvez vídeo-conferência). E porquê? Porque o país estava a arder com 5 mil milhões de euros e era preciso apagar o fogo com urgência.
Em condições normais, num país normal, com políticos civilizados, o “furacão BES/GES/BANCO NOVO/BANCO MAU determinaria um Conselho de Ministros extraordinário; um Conselho de Estado de emergência, para discutir uma situação a todos os títulos excepcional, de gravidade ainda incomensurável e de consequências provavelmente muito desastrosas para Portugal, para os portugueses e para o erário público.
Mas… epá… como não se morre a uma 6ª feira para não estragar o fim-de-semana dos vivos, não se tratam de ninharias de 5 mil milhões de euros na silly season, quando o primeiro e os seus acólitos estão a banhos na Manta Rôta, Vilamoura, Comporta, Guincho, Sal,  praia dos Tomates ou nas Berlengas…
Talvez tenha sido uma estratégia para passar à opinião pública o faz-de-contas-que-isto-não-é-nada-de-grave. Talvez. A opinião pública só tem de saber que quem vai pagar é o Fundo de Resolução recentemente criado pelo Decreto-Lei nº 31-A/ de 10 de Fevereiro . Mas porque o Fundo de Resolução ainda só tem 180 milhões de euros em caixa e são precisos 5 mil milhões (quase 30 vezes mais), vai-se buscar o dinheiro que era uma almofada deixada pela troika e a ser pago pelos contribuintes.
No fundo, por mais voltas que a mula dê à nora, todos sabemos, menos ela, que não sai do círculo apertado em que se move. Que o mesmo é dizer: cada cidadão, cada contribuinte português, espoliado dos seus bens, em impostos constantes, reduções de salários e reformas, serviços básicos e essenciais como a Saúde, a Educação, a Justiça vai pagar a fraude do Espírito Santo que, após ter estoirado 3,5 mil milhões, depois das tramóias começarem a ser conhecidas, ainda teve o à vontade e a liberdade de volatilizar mais 1,5 mil milhões de euros…
Eu vou pagar ao Fundo de Resolução. Mas o leitor esteja descansado, também, de uma maneira ou outra, com mais impostos, maior redução salarial ou menos e piores serviços vai contribuir para pôr água quente na aferventada hecatombe que aí vem.
“Ó pá, não devias ir de férias definitivas para um qualquer resort na Ilha do Sal, em Cabo Verde?”, questionou o compadre Zacarias, que não vai de férias para nenhum lado, porque a magra reforma já não estica…
 
 

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