As voltas da Volta…

  Quando eu era criança sonhava em ter uma bicicleta. O meu avô materno ofereceu-ma tinha eu 7 anos. Era verde escura com um filet branco. Um primor. Proporcionou-me horas de muito prazer… Dantes, tirando as crianças afortunadas, quem andava de bicicleta eram os operários fabris, nos centros urbanos e os “remediados”, nas vilas e […]

  • 10:36 | Quarta-feira, 06 de Agosto de 2014
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Quando eu era criança sonhava em ter uma bicicleta. O meu avô materno ofereceu-ma tinha eu 7 anos. Era verde escura com um filet branco. Um primor. Proporcionou-me horas de muito prazer…
Dantes, tirando as crianças afortunadas, quem andava de bicicleta eram os operários fabris, nos centros urbanos e os “remediados”, nas vilas e aldeias. Eram as “pasteleiras”. Robustas, pretas, com selins que pareciam obras de arte, cheios de molas intrincadas, uma bomba no quadro e uma grelha sobre a roda traseira que servia de porta-bagagens e era muito prática.
Hoje, a febre biciclista tornou-se uma salutar forma de exercício/manutenção física e as estradas estão cheias de “valquírios” equipados a rigor, com calções especiais e justinhos, de licra, especiais, camisolas coloridas cheias de publicidade, capacetes espaciais e etc. Um negócio próspero! Graças a Deus que ainda os há neste país de insolvências…
A Volta a Portugal está desde ontem em Viseu. Coisa muito bonita e que atrai muito público e dá visibilidade à terrinha e fomenta a hotelaria local.
Pois, também sabemos que “não há jantares de borla” e que a Senhora Câmara paga uma “pipa de massa” para os cá ter. É pôr Viseu no mapa. É mostrar Viseu nas televisões, esses caixotes endeusadores e feiticeiros… E Viseu preocupa-se com a imagem. Com algumas imagens, pelo menos. Aquelas que dão nas vistas, adjectivas,  porque quanto às outras, as substantivas,  é uma desgraça…
Só é pena que o desporto, o prazer e os gostos de uns prejudiquem outros. Ou seja, o trânsito ontem ficou caótico durante horas a fio. Hoje será idêntica Babel. A GNR girandolou com motos e carros sinalizados; a PSP proibiu acessos por todo o lado. Muito bem. Mas quando um cidadão tem que trabalhar e não consegue deslocar-se ou quando um cidadão quer chegar a sua casa, vindo do trabalho que é fora e demora duas horas para chegar a sua casa, quando perde tanto tempo, gasta tanto combustível e fica à beira de um ataque de nervos… a PSP que sabe proibir tem que obrigatoriamente e sob pena de não cumprir as suas funções, dar alternativas aos utentes. E aquilo que se presenciou foi o contrário: “Senhor agente como vou de Abravezes para a Quinta do Bosque?”, “Não faço ideia, o problema é seu!”; “Senhor agente, como vou de Gumirães para o aeródromo?”, “Desenrasque-se, rápido…!” Coitados… ali a estiolar ao sol, a disposição e a informação não havia de ser das melhores…
Foram estas as duas respostas que ouvimos. E andámos, às voltas, como um carrocel perdido…
Hoje, pela manhã, apenas queríamos ir a um centro comercial fazer compras de material informático, mas mal deparámos com bichas de quilómetros, desistimos.
Os passantes, turistas e visitantes… esses… a única coisa que procuram e de imediato é o acesso a uma A24 ou A25 para fugirem de Viseu a sete pés, dessa balbúrdia incontrolável…
Os locais, pior ou melhor, com mais gasto de tempo, energia e combustível, sempre arranjam alternativa por quelhos e ruelas.
A liberdade de uns acaba quando põe em causa a liberdade dos outros. Esta descoordenação há-de ter nome e cara. E há-de ser de um vereador do pelouro do desporto e do pelouro do trânsito que age de modo desrazoável, sem planeamento, pouca estratégia, muita ineficácia e reduzida competência. Gosta de festas, mas não sabe organizá-las. O costume…
Para terminar e escrever algo de agradável, a foto supra foi-me tirada pelo meu Pai… tinha eu sete anos e mostra a minha paixão da época: uma tal bicicleta verde e branca…

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Publicado em Editorial