Nas margens do Távora…

  No prefácio da sua obra “S. Banaboião anacoreta e mártir” (1937), uma revisitação e subtil sátira da hagiografia tradicional, Aquilino dirigindo-se ao seu amigo, o advogado José Gomes Mota (irmão do médico António Gomes Mota com o qual foi preso em Contenças, Mangualde, 1928… mas isso é outra história), escreve: “Prezado Amigo: São tão […]

  • 21:03 | Sábado, 14 de Março de 2015
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No prefácio da sua obra “S. Banaboião anacoreta e mártir” (1937), uma revisitação e subtil sátira da hagiografia tradicional, Aquilino dirigindo-se ao seu amigo, o advogado José Gomes Mota (irmão do médico António Gomes Mota com o qual foi preso em Contenças, Mangualde, 1928… mas isso é outra história), escreve:
“Prezado Amigo: São tão chegadas as aldeias em que nascemos que duma para a outra quási se ouvem cantar os galos. A sua, sobre o Távora, mimosa de tudo, mais obrigada ao sol que ao húmus; a minha, a fugir para a serra, rude e ascética, frutificando pelo suor do homem.”
Aquilino fala do Freixinho e do Carregal, respectivamente.
O Freixinho tem as cavacas mimosas inventadas pelas recolectas do Convento de Nª Sª do Carmo. O Carregal tem, a um tiro de escopeta, os fálgaros, mais rudes, das cistercienses do Convento da Nª Sª da Assunção, na Tabosa. Em comum, ambas as aldeias têm gente honrada e ao muito labor dadas.
Hoje estive no Freixinho. Fui cedo, ainda rijo soprava o hálito da noite, mas, cerca adentro, o sol amavioso aconchegava-nos com calidez.
Em baixo, aos pés da aldeia, o Távora já não corre em fúria como outrora, mas não perdeu a prata da cor nem a beleza da ligeira linfa.
Foi um encontro fraterno, o de hoje. Com os confrades da Confraria da Castanha dos Soutos da Lapa. A castanha, a Martaínha que Aquilino tão bem narrou…
Escoaram-se ligeiras as horas. Como sempre acontece quando de gente boa e de bem estamos rodeados. Também, portas adentro do rígido convento do século XVI, a amenidade nos convoca. As palavras bem conversadas são de harmonia, pois há quem ainda assim fale. A gastronomia é ancha na variedade e na qualidade e, como “à mesa não se envelhece”, diz o povo que nestas asserções é muito sábio, fluiu a tarde sem que as preocupações nos molestassem, deixadas à grade estreita, e só de novo requisitadas, com modéstia e aceitação, na hora da partida.
Venha a próxima, Senhor Mordomo-Mor!

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Publicado em Editorial