Mr. Rabbit e as cenouras

Serravam os ramos em que se sentavam E gritavam uns aos outros as suas experiências Como se podia serrar mais rápido, e despenhavam-se Com ruído pra as profundas, e os que viam Abanavam as cabeças ao serrar e Continuavam a serrar. B. Brecht, Poemas (ASA) , trad. Paulo Quintela, 2007   Olhando em torno do […]

  • 12:04 | Sábado, 09 de Agosto de 2014
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Serravam os ramos em que se sentavam
E gritavam uns aos outros as suas experiências
Como se podia serrar mais rápido, e despenhavam-se
Com ruído pra as profundas, e os que viam
Abanavam as cabeças ao serrar e
Continuavam a serrar.
B. Brecht, Poemas (ASA) , trad. Paulo Quintela, 2007
 
Olhando em torno do folhetim BES/GES fica-nos esta sensação agravada por um governador do BdP indiligente, um ex-conselheiro ineficiente, um primeiro-ministro ausente e um povo presente. Um povo que vai pagar a catadupa crescente e incomensurável da dívida deixada por Ricardo Espírito Santo. O tal que e segundo a Autoridade Tributária nada tem em seu nome pessoal assim como sua mulher Maria João. E nós continuamos a serrar e os finórios, discretamente, aplaudem e alienam todos os bens pessoais, tornando-se repentinamente de um Top10 nacional das grandes fortunas num indigente que nada tem. Até aqui, nesta atitude, se pode ver o ensejo doloso de toda uma prática porfiada, premeditada, fraudulenta.
Há um país que se despenha com as arteirices criadas e protegidas pelos todo-poderosos. Impunes e imunes, à solta, com gáudio, rindo da “cambada” que vai pagar. A Justiça não faz providências cautelares a bens que não existem, não penhora o que não há, não anula transmissões de propriedade ou alienação de bens feitos à velocidade da luz.
 
Sois como gente que chegasse à praia
Quisesse passar para o lado de lá e só tivesse uma colher
Para esgotar o mar. Ou como gente
Que caísse duma torre e durante a queda fosse pensando
Como as torres se poderiam fazer mais altas.
 
Como se vivêsseis em grandes tempos. – E assim é também.
(idem)
 
É um estranho país, este. É um estranho povo. Capaz das mais heróicas façanhas e das mais torpes cobardias. Um povo que compactua com todas as espoliações, na síndrome de 1580 e que demorou seis décadas a reerguer a espinhela. Nunca ficou bem direita…
Entretanto o PS, vai de guerra em guerra. Da Batalha dos Atoleiros chegou à de Aljubarrota, sem deixar de passar pelo Cerco de Lisboa. No século XX e depois de duas Grandes Guerras, as pugnas ou digladiações passaram a apodar-se, cirurgicamente, de operações. Depois da Operação Jacaré veio a Lança Afiada e, neste momento, joga-se a Nebulosa…
Costa vai a 60%, Seguro a 30%. Enquanto seus boys disparam as carabinas, Coelho banha-se, tranquilo na Manta-Rôta, sugestivo nome de praia que tão bem o acolhe no meio de dezenas de agentes da GNR, fardados e seguranças à paisana. Será que a Manta Rôta, lugar mal frequentado, tem agora tubarões nas suas águas? Avisem-no, sff!
 
O que em ti era monte
Alisaram-no
O teu vale
Atulharam-no
Sobre ti passa
Um caminho cómodo.
(idem)
 
Por aí, os “atulhados” tecem panegíricos ao a-criticismo. Bastou, aos Mr. Rabbit acenar-lhes com a cenoura, pôr-lhes cevada odorosa na manjedoura e passar-lhes pelos lombos nédios a mão do afago. A outra, a do cutelo, está – por ora – invisível. Engalfinhados na avidez da ração desmemoriam-se. O intestino é maior que o cérebro. 100% cómodo e seguro, o caminho, mesmo que seja feito de rastos, na subserviência dos invertebrados. Abençoado “pecadrómetro”…
 
 

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