“Europa Trágica”

    No nº 1 da revista luso-brasileira “Atlântico”, dirigida por António Ferro e Lourival Fontes, surgem nomes como Aquilino Ribeiro, Eugénio de Castro, Carlos Drummond de Andrade, Tomaz Kim, Ruy Cinatti, Manuel da Fonseca, Forjaz Trigueiros, António Lopes Ribeiro, etc. Publicada na primavera de 1942, tinha esta revista como objectivo central juntar a “palavra […]

  • 13:28 | Domingo, 24 de Maio de 2015
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No nº 1 da revista luso-brasileira “Atlântico”, dirigida por António Ferro e Lourival Fontes, surgem nomes como Aquilino Ribeiro, Eugénio de Castro, Carlos Drummond de Andrade, Tomaz Kim, Ruy Cinatti, Manuel da Fonseca, Forjaz Trigueiros, António Lopes Ribeiro, etc.
Publicada na primavera de 1942, tinha esta revista como objectivo central juntar a “palavra brasilidade à palavra lusitanidade” e a partir daí “Revelar Portugal novo aos brasileiros. Revelar o novo Brasil aos portugueses.”
É evidente que lá e cá, a publicação – mera manobra de propaganda “à Ferro”— não passou das mãos de uma minoria de intelectuais, de académicos e de escritores/artistas.
E porém, perante esta aparente calmaria, na Europa efervesce a IIª Grande Guerra. Em Portugal pouco se passa de novo para além da perpetuação do Estado Novo. O país, com Salazar, confina-se a uma neutralidade germanófila, com fervorosa admiração por Hitler e Mussolini. No Brasil, com Getúlio Vargas, também o Estado Novo de 37 a 45 pontifica, mas com o Brasil a entrar timidamente na guerra, contra a Alemanha e a Itália, em Agosto de 1942, na sequência do torpedeamento de navios brasileiros por navios nazis.
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Não obstante, não o esqueçamos, Getúlio e Salazar são dois nacionalistas radicais.
Mas não nos afastemos do núcleo desta crónica… Na revista referida aparece também um texto de Marcelo Caetano, um jovem professor de 36 anos, catedrático desde 1939 em Ciências Político-Jurídicas, na FDL, um fervoroso apoiante do autoritarismo salazarista.
Desse texto intitulado “Inquietação e Esperança”, sem passadismos mas por alguma actualidade premonitória, embora em contexto próprio, citamos e com o sub-título de “Europa Trágica”:
Debruçado sobre o Atlântico, a olhar os novos continentes por onde semeou a alma e deixou parte do coração, Portugal está na Europa. (…) E por mais que as cisões a tenham retalhado, apesar das lutas fratricidas que loucamente a ensanguentam, a Europa é ainda uma comunidade cimentada por profundas solidariedades históricas, económicas e culturais. Estar na Europa não é apenas, para Portugal, uma posição geográfica: é também um drama de consciência continental.”
Mais adiante, sob o título “Uma Juventude à Procura do seu Destino”, releva:
No meio de uma Europa a debater-se em mais um acto da tragédia que há século e meio se desenrola em seu seio (…) não há que estranhar encontrar-se uma juventude à procura do seu destino.”
Quase 6 décadas após, a Europa já não permanece “apesar das lutas fratricidas que loucamente a ensanguentam, uma comunidade cimentada por profundas solidariedades…” mas os jovens portugueses, esses, continuam Europa fora “à procura do seu destino.”
Fado lusitano. Pendularidade histórica.
Ps: A título de curiosidade, o artigo de Aquilino toma o nome do romance a ser publicado no ano seguinte:  “Os Avós dos nossos Avós”, é de cariz histórico e sobre Aníbal, o cartaginês.
 
 

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