Enganar o Tempo…

O facto de haver uma semelhança, no grego, entre a palavra Crono, Kpóvoç e a palavra Tempo, Xpóvç (grafia aproximada permitida pelo computador) gerou a ideia de que Crono era a personificação do Tempo. Nada mais falso… mas a ideia vingou.

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  • 12:08 | Sábado, 02 de Outubro de 2021
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Matar o tempo, passar o tempo, enganar o tempo… são expressões usadas em muitas línguas, com o sentido de ocupar o seu tempo com acções pouco importantes, fugir ao tédio, ao aborrecimento, encurtar o tempo através de uma qualquer ocupação.

Passou o meu tempo, perdi o meu tempo, ganhei o meu tempo, virei costas ao tempo, são também expressões correntes do nosso quotidiano.

O tempo é o limite da duração do ser humano, na sua finitude.


Frequentemente, o tempo é simbolizado pela Roda ou Rosácea, com movimento giratório representando o ciclo da vida. Por isso, a maioria dos relógios é redonda e quando começaram a aparecer os relógios quadrados, há quem sentencie ter sido com o intuito de exorcisar a angústia do inexorável fluir temporal e a consequente constatação do efémero.

Crono, muitas vezes erradamente designado como Deus do Tempo, tem na mitologia uma “história” acidentada, sendo primicialmente o filho mais novo de Úrano, o Céu, e de Geia, a Terra. Depois de muitas peripécias (a peripeteia grega) tornou-se o senhor do mundo e casou com sua irmã Reia. Tendo-lhe sido dado a saber por Úrano e Geia, senhores da sabedoria e do conhecimento futuro, que seria destronado por um dos seus filhos, passou cautelarmente a devorá-los à medida que nasciam. O tempo, de facto, devora-nos a todos na sua imparável marcha…

 

 

O facto de haver uma semelhança, no grego, entre a palavra Crono, Kpóvoç e a palavra Tempo, Xpóvç (grafia aproximada permitida pelo computador) gerou a ideia de que Crono era a personificação do Tempo. Nada mais falso… mas a ideia vingou. Vingou como tantas outras falácias que, assazmente repetidas, entraram na aceitação do vulgo e no senso comum da existência. “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, diz a pródiga e certeira voz do povo.

Hoje, sábado 3 de Outubro, apresentou-se-nos com um dia soturno e fresco, cinzento e bisonho desta penúltima estação do ano, Outono, palavra que vem de auctumunus com origem latina em augeo, aumentar, significando assim a estação que é aumentada, que é enriquecida. Simboliza também pelas folhas caídas e as desnudas árvores, o declínio humano.

Hoje não vou aumentar nada. Vou enganar o tempo a ler, a escrever e a desenhar. Verei um filme, ouvirei um ou dois cd’s, e assim, alheando-me do real circundante (por vezes é preciso…), encurtarei psicologicamente o tempo que, alheio a tudo prossegue no seu fluir inexorável, sem que o consigamos reter, deter ou parar.

E como demorei 10 minutos a escrever este texto que o complacente Amigo lerá em três minutos, dei um brevíssimo contributo, a mim e a si, para ocuparmos o tempo, o manganão, mesmo se com algo de ínfima importância…

 

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