De Salamanca a Viseu… de Tormes ao Pavia

    Não nasci em Viseu. Contudo, desde ganapito, vinha a minha avó materna passar suas remansosas tardes à Pastelaria Santos, nas 4 Esquinas, hoje Casa da Sorte, e eu vinha com ela e com a moeda de prata de 5$00 que ela me dava, ia para os Cesteiros, na Rua Direita, ver os brinquedos […]

  • 17:05 | Sábado, 10 de Outubro de 2015
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Não nasci em Viseu. Contudo, desde ganapito, vinha a minha avó materna passar suas remansosas tardes à Pastelaria Santos, nas 4 Esquinas, hoje Casa da Sorte, e eu vinha com ela e com a moeda de prata de 5$00 que ela me dava, ia para os Cesteiros, na Rua Direita, ver os brinquedos ou até, comprar um mais baratito.
Mais tarde, continuando nestas incursões sociais de minha entediada antepassada — que não dispensava as longas e decerto interessantes conversas com seu grupo de amigas — passei a receber 10$00 e, com eles, já me abalançava, armado em homem, a ir comer a meia tarde um “combinado nº 3” à Gruta, na antiga Rua da Cadeia, composto de um prego no prato com ovo a cavalo e batatas fritas, o todo acolitado por uma jarrinha de tinto e por um final e voluptuoso cigarro, deitando o olhar para uma mesa ou outra onde parava uma interessante fauna feminina com aqueles elegantérrimos penteados à Gigliola Cinquetti… What a style!
Fiz parte do meu liceu em Viseu. O meu estágio profissional, curso tirado em Coimbra, cá foi feito. Aqui me efectivei e cá trabalhei algumas dezenas de anos. Morei na Avenida Infante D. Henrique, comprei habitação em Repeses, depois na quinta da Misericórdia, e finalmente na quinta do Bosque, em 28 de Dezembro de 1996.
Gosto de Viseu. Foi a minha opção de residência. Elegi-a como minha terra. Conheço-lhe os cantos todos, mesmo os mais remotos e “escondidos”. Dou azo ao meu gosto, fotografando-a vezes sem conta.
E porém, basta-me ir a Salamanca — o que faço amiúde — e perceber claramente a diferença abismal entre estas duas cidades separadas por mais ou menos 225 quilómetros de distância, que se cumprem calmamente em pouco mais de duas horas de excelente estrada.
A organização da urbe, a limpeza, a claridade, as cores onde predomina o beige e o ocre das fachadas de seus imóveis de bom gosto e imponência, a luminosidade, a riqueza do seu património histórico, a cosmopolita população estudantil, a profusão quotidiana de turistas dos quatro cantos do globo, a beleza e simpatia das suas gentes, o comércio, a “movida”, a vida da Plaza Mayor, o maravilhoso núcleo Histórico, o fervilhante movimento pedonal, a restauração, as quase quatro dezenas de boas unidades hoteleiras, a pujante Academia, as livrarias, o garbo e salero castelhano…
Quando regresso a casa — e tanto dela gosto — aperta-se-me um bocadinho o coração…
Tanto desmazelo, tanta incúria autárquica, tanto fazer-que-faz-sem-fazer… tanto ineficaz fogo-faralho mediático, tanta presunção e água benta, tanto desmazelo de alguns vereadores e pouca diligência de outros… Tanta e tão vaamente apregoada qualidade de vida…
E de facto, dou comigo a pensar que já não vou a tempo para grandes mudanças, mas a ter quase a certeza de que, na próxima reencarnação eu gostaria de ser salamantino…
Ou então, apanhar por cá autarcas competentes.

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