Autarcas e familiares

Tenho muito respeito e nalguns casos amizade pela maioria dos 24 autarcas do distrito. Não ignoro a dificuldade que frequentemente sentem para gerir os seus territórios com profícua decisão, inovação, criatividade e optimizada gestão. Muitas vezes há edis novos que herdam autarquias quase impossíveis de gerir pela dívida deixada de outras gestões. O contrário também […]

  • 0:05 | Sábado, 18 de Janeiro de 2014
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Tenho muito respeito e nalguns casos amizade pela maioria dos 24 autarcas do distrito.
Não ignoro a dificuldade que frequentemente sentem para gerir os seus territórios com profícua decisão, inovação, criatividade e optimizada gestão.
Muitas vezes há edis novos que herdam autarquias quase impossíveis de gerir pela dívida deixada de outras gestões. O contrário também é verdadeiro, como por exemplo na CMV onde Almeida Henriques tem no cofre os milhões deixados por Fernando Ruas.
Há câmaras onde os recursos humanos transbordam das necessidades pelos apadrinhamentos anos a fio praticados. Mas há, fundamentalmente, em todas as autarquias do distrito de Viseu muita obra feita e concelhos que, nos últimos anos mudaram completamente o modus vivendi das suas populações, tornando-se até, casos paradigmáticos das boas práticas sociais que o Governo engavetou.
Todo o “apadrinhamento”, ou colocação que não seja orientada e escrutinada em função do mérito dos candidatos ao lugar é reprovável. Nalguns casos praticaram-se até ardilosas trocas com câmaras vizinhas, como ocorreu, há uns bons anos, entre Mangualde e Nelas, encabeçadas por autarcas de partidos antagónicos. Despudoradas situações que não dignificaram os praticantes.
Por isso e sempre, o exercício de transparência – quase uma utopia – seria o ideal. Mas o ideal deverá ter de cima o exemplo,  em jeito modelar. Quando os Governos sucessivos têm dado tão má e lesiva imagem nesta matéria, a nível central, qual a admiração quando se passa a nível local?
Por outro lado, sem querer parecer ou ser fatalista, o “jeitinho” faz parte do ADN luso e é secular.
Porém, um autarca deve ter também presente que ao cometer actos extrapolativos e abusivos das suas funções está a pôr em causa, em primeira e derradeira instância o partido que o indicou, a seguir as regras democráticas, os eleitores que nele votaram e a legitimidade sub e sobrejacente à República, que é a “coisa pública”.
Hoje, a constatação inequívoca de tais realidades paga-se cara, pondo por vezes um autarca em causa bons anos de missão, de idoneidade, seriedade, fidedignidade e lisura por uma ligeireza, uma leviandade autocrática, uma arteirice imponderada …
A lei é igual para todos os cidadãos e uma câmara não é um lenteiro familiar, pois não?

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Publicado em Editorial