As ratazanas e as pulgas da peste

Em Portugal, como no mundo, a peste veio trazer a desgraça a um povo e um país outrora feliz. Logo, os ratos, às centenas, encontraram forma de aproveitar a praga para dela tirarem os maiores proveitos materiais. As pulgas, essas, aos milhares, por mera figura de retórica, são os que furam todas as normas criadas para o bem-estar colectivo, as da DGS incluídas, sendo tão lestos a fazê-lo como vertiginosamente rápidos a arranjar as mais mirabolantes explicações para os microfones das rádios e câmaras das tv’s.

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  • 16:27 | Terça-feira, 02 de Fevereiro de 2021
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Todo o cidadão mais dada à literatura sabe que”A Peste”*, de Albert Camus (1947) é uma notável e imensa alegoria da invasão da França pelas tropas nazis, a 10 de Maio de 1940.

As tropas alemãs são a peste que vem lançar os seus ratos infectados numa cidade outrora feliz. “Ninguém será jamais livre enquanto houver pragas.” E é verdade…

Quando Camus escreve que “a peste poupava as constituições fracas e destruía sobretudo as compleições vigorosas”, quer dizer que os resistentes, os que lutaram, sucumbiram à sua luta enquanto que os colaboracionistas, os cobardes, foram poupados. E continua nesta linha “Puseram |os ratos| em circulação milhares de pulgas que transmitirão a infecção segundo uma proporção geométrica , se não se detiverem a tempo!”.


Essas pulgas desovadas pelas ratazanas pertencem à ordem dos miseráveis sub-humanos de sempre, de todos os imemoriais tempos.

Em Portugal, como no mundo, a peste veio trazer a desgraça a um povo e um país outrora feliz. Logo, os ratos, às centenas, encontraram forma de aproveitar a praga para dela tirarem os maiores proveitos materiais. As pulgas, essas, aos milhares, por mera figura de retórica, são os que furam todas as normas criadas para o bem-estar colectivo, as da DGS incluídas, sendo tão lestos a fazê-lo como vertiginosamente rápidos a arranjar as mais mirabolantes explicações para os microfones das rádios e câmaras das tv’s.

Alguns, os mais refinados, para se justificarem, rebuscam tanto na retórica charlatã que até quase conseguem, como escrevia outro francês, Roland Barthes, “dar caução nobre a um real cínico.”

 

*Usei a edição francesa da “folio – Gallimard”, de 1947. A tradução é de minha responsabilidade.

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