Almeida Henriques e a "alcoviteira" vicentina

    Brízida Vaz: Seiscentos virgos postiços E três arcas de feitiços Que não podem mais levar. Três almários de mentir E cinco cofres de enleios E alguns frutos alheios Assim em jóias de vestir Guarda-roupa d’encobrir Enfim – casa movediça; Um estrado de cortiça Com dois coxins d’encobrir. A mor cárrega que é: Essas […]

  • 12:13 | Quarta-feira, 29 de Abril de 2015
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Brízida Vaz:
Seiscentos virgos postiços
E três arcas de feitiços
Que não podem mais levar.
Três almários de mentir
E cinco cofres de enleios
E alguns frutos alheios
Assim em jóias de vestir
Guarda-roupa d’encobrir
Enfim – casa movediça;
Um estrado de cortiça
Com dois coxins d’encobrir.
A mor cárrega que é:
Essas moças que vendia.
Daquestra mercadoria
Trago eu muito, à bofé!
Gil Vicente – Cena VII – Barca do Inferno
 
 
 
 
Almeida Henriques sofre de ansiedade. Ele e mais uns milhões de portugueses. Mas por motivos diferentes.
A de AH reside na incontrolável ânsia de mostrar obra feita. A de alguns milhões de portugueses reside no simples facto de chegarem a meio do mês sem dinheiro para subsistir. Fruto das políticas de um governo que integrou.
AH que começa a ser conhecido nalguns círculos como o “autarca-eucalipto” e noutros como o “presidente-holofote” deseja tanto e tão animosamente ser alvo das atenções mediáticas que não resiste a fazer o que não lhe é devido, que não lhe fica bem e que, até, pode ser motivo para pôr em causa a seriedade do agir.
Um mero comunicado da Liga de Amigos do Hospital Tondela Viseu acerca de um encontro com o autarca trazia um parágrafo “assassino” em que o RD pegou…
ler aqui:
 
De seguida, o grupo parlamentar do PCP, por mão do deputado Luís Tiago questionou o Ministro Paulo Macedo.
ler aqui:
 
Mas de facto e depois do dito nada mais havia a dizer…
Almeida Henriques deu um tiro no pé ao comunicar que a unidade de radioterapia prometida pelo seu governo viria para Viseu pelas mãos de um grupo privado. Mas, além de dar um tiro no pé, ao veicular notícias completamente fora do seu âmbito de acção — afinal representa ou é porta-voz do Ministério da Saúde ou do tal grupo privado? — deixa a pairar no ar a eventualidade de poder ser agente de ligação entre partes envolvidas, das quais está ou deveria estar a “milhas” da  zona de influência.
E deste modo, quase faz lembrar a Brízida Vaz do teatro vicentino…
 
Mas como se não bastasse, após todo o “fogo faralho” com a linha ferroviária e com a ligação Viseu-Coimbra, já teve duas respostas: a do secretário de Estado dos Transportes, o mangualdense Sérgio Monteiro e a do primeiro-ministro do PSD, Passos Coelho. Que tinham algo em comum. O quê? A “nega” dada aos dois ansiosa e mediaticamente apregoados projectos.
Só lhe falta mesmo ressuscitar o fantasma da “Universidade Pública”, quando as instituições de Ensino Superior privado fecham as suas portas por falta de alunos e as públicas se vêem a braços com a crescente desertificação do interior, a crise demográfica e… a falta de verbas.
Não há dinheiro para pão quanto mais para educação…
 
Almeida Henriques não consegue, de facto e no fundo, mostrar o que quer que seja para além de umas estralejantes “rambóiadas”.
E se o vinho do Dão e os Jardins Efémeros prevalecem, convém não esquecer: já cá estavam no tempo de Fernando Ruas…
 
Post scriptum: Também a “oposição” PS à CMV decidiu, numa tímida manifestação de interesse questionar o autarca, pegando no mote e recebendo a sua majestática indiferença. Que o mesmo é dizer: Não lhes ligando “pêva”…
Citamos:
Face às notícias de que a unidade de radioterapia, há mais de uma década reclamada para Viseu, a vir para Viseu seria no privado e não para o Centro Hospital Tondela-Viseu, procurámos obter mais informações do Sr. Presidente da Câmara.
Percebendo pela sua resposta que lhe é “indiferente” que a mesma seja criada no sector privado ou no público, manifestámos a nossa discordância por temermos que a instalação deste serviço no privado não assegure as condições de acesso universal a toda a população e especialmente aos grupos mais carenciados e por entendermos que estamos perante mais um “não investimento” deste Governo no Centro Hospitalar Tondela-Viseu e na nossa região.”

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