A miséria é como um touro feroz: frente a frente faz-nos tremer…

  Foi ontem, 2ª feira dia 16, pelas 11H55, que pela primeira vez assisti àquela cena que ninguém deseja testemunhar. Junto à Cava do Viriato, em Viseu, um cidadão de média estatura, careca incipiente e cabelhos grisalhos, à volta dos 50 anos, esquálido, decentemente vestido e calçado, aproximou-se de um caixote de lixo dos cilíndricos, […]

  • 15:01 | Terça-feira, 17 de Junho de 2014
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Foi ontem, 2ª feira dia 16, pelas 11H55, que pela primeira vez assisti àquela cena que ninguém deseja testemunhar.

Junto à Cava do Viriato, em Viseu, um cidadão de média estatura, careca incipiente e cabelhos grisalhos, à volta dos 50 anos, esquálido, decentemente vestido e calçado, aproximou-se de um caixote de lixo dos cilíndricos, urbanos e pequenos, olhou em seu redor, voltou a olhar e meteu lá dentro a mão direita. Remexou. Tirou um saco de plástico pequeno, meio cheio com restos de comida que alguma alma caridosa lá tinha colocado, assim semi-preservado, para matar a fome a um semelhante e guardou-o com sofreguidão dentro do casaco.


Eu estava dentro do carro a uns 20 metros, semi-ocultado por uma árvore. Tinha uma câmara comigo, com zoom. Não consegui tirar a fotografia. Não podia tirar aquela fotografia.

A miséria existe. Está aí, mais ou menos envergonhada, aos olhos de cada um.

O orgulho deste governo: pôr milhões de portugueses a esgaravatar nos caixotes do lixo, para sobreviverem…

E não há vontade de escrever mais. A náusea toma-nos e a vergonha subjuga-nos.

Nota: A imagem que acompanha o texto não se refere ao acto descrito. Pela analogia, ilustra-o, apenas.
 

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