A História repete-se e a memória é curta

  Há poucos dias e após umas mais inflamadas e tresvairadas declarações de Le Pen (pai), um adolescente cigano esteve em vias de ser linchado por um grupo de jovens, na França. Com uma ciclicidade inquietante e não tão temporalmente dilatada quanto isso, o século XXI está a mostrar nada ter aprendido com o inquantificável […]

  • 20:29 | Domingo, 22 de Junho de 2014
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Há poucos dias e após umas mais inflamadas e tresvairadas declarações de Le Pen (pai), um adolescente cigano esteve em vias de ser linchado por um grupo de jovens, na França.

Com uma ciclicidade inquietante e não tão temporalmente dilatada quanto isso, o século XXI está a mostrar nada ter aprendido com o inquantificável genocídio do século passado.


Na França e na Ucrânia começa já a verificar-se uma crescente emigração de judeus perante a onda crescente de anti-semitismo. De 2012 para 2013, aumentou para 63% o número de cidadãos a emigrar para Israel. De França seguiram 3.280. Foram registados nas duas últimas semanas, nesse país, ataques contra um professor de origem judia e um ataque, em Paris, com arma branca contra um rabino e seu filho.

Em Bruxelas ocorreram mortes no Museu Judeu.

Por seu turno, na Ucrânia, o ultra direitista Dmitri Yarosch, criminoso procurado por crimes na guerrilha chechena, um dos mais acérrimos apologistas da “limpeza étnica”, senhor de um poderoso exército e base da Guarda Nacional ucraniana candidatou-se a presidente do país ameaçando atacar as estruturas de transporte de petróleo e gás russos para a Europa. Para essa mesma Europa que parece alheada de tudo quanto se passa em seu redor.

Na Polónia, na Holanda, na Áustria, na Alemanha, na França… a onda começa a crescer. A ex-primeira ministra da Ucrânia e candidata à presidência Yulia Tymoshenko, referindo-se aos 8 milhões de russos que aí vivem, falou na sua possível exterminação.

Independentemente das raças, das etnias, das nacionalidades, dos credos, das ideologias, das cores e dos sexos, sem entrarmos na demagogia do a favor ou contra este ou aquele, esta onda crescente de violência é inadmissível. Vem dos extremistas de direita. Seria de igual modo repugnante se fosse oriunda de extremistas de esquerda. É abjecta, qualquer que seja a sua origem político-religiosa.

E este esboço simplista tem no médio oriente e em África um conjunto de cenários apocalípticos. A Europa acorda devagar da crise em que refocila; os EUA começam a ficar com os pelos da nuca arrepiados.

Entretanto, se a Rússia e a China derem as mãos, agora que andam empenhados em ultrapassar as diferenças… um tsunami inimaginável poderá passar por aí…

Brecht escreveu:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei.
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
 
Niemöller (1933) tem esta variante:
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
Já não havia mais ninguém para reclamar…
 
 
 
 

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