A era dos impérios efémeros

  Esta é a notícia que se pode ler no JN. O Grupo Controlinveste Conteúdos, proprietário de vários órgãos de comunicação social irá despedir 160 colaboradores de entre os quais 70 jornalistas, indo ainda encerrar as delegações regionais. Lembramos que este grupo detém títulos como o JN, DN, TSF, O Jogo, a SportTV… Recorde-se quem é […]

  • 11:28 | Quinta-feira, 12 de Junho de 2014
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Esta é a notícia que se pode ler no JN.

O Grupo Controlinveste Conteúdos, proprietário de vários órgãos de comunicação social irá despedir 160 colaboradores de entre os quais 70 jornalistas, indo ainda encerrar as delegações regionais. Lembramos que este grupo detém títulos como o JN, DN, TSF, O Jogo, a SportTV…


Recorde-se quem é a Controlinveste Conteúdos, pelas suas próprias palavras, tiradas do seu site:

Com uma relevância crescente na vida dos portugueses, a Controlinveste é um dos maiores grupos de media em Portugal, com presença nos sectores da imprensa, rádio, televisão e internet. O grupo gere ainda um diverso conjunto de participações em empresas com actividade na área da publicidade, comunicação multimédia, produção de conteúdos e design, telecomunicações, desporto, entre outras.

A Controlinveste tem a sua origem na Olivedesportos, empresa fundada em 1984 por Joaquim Oliveira, ainda hoje um dos mais importantes activos do grupo, que tem participação activa na área dos direitos de transmissão televisiva das principais competições do futebol profissional em Portugal (i.e. Selecção Nacional, 1ª Liga, Taça de Portugal, Taça da Liga, Taça UEFA, entre outras), bem como direitos de patrocínio e publicidade desportiva. Em 1994, a Controlinveste adquire o seu primeiro título de imprensa, o jornal desportivo O Jogo. Em 1998, lança a SportTV, em parceria com a RTP e a PT Multimedia, um canal pago de televisão exclusivamente dedicado ao desporto, presentemente detido em partes iguais pela Controlinveste e pela PT Multimedia. Com a crescente importância da internet e dos meios multimédia, a Controlinveste cria em 2001, em parceria com Portugal Telecom, a empresa Sportinveste Multimedia. Esta empresa é responsável pela gestão das operações digitais e multimédia dos três principais clubes de futebol em Portugal (Benfica, Porto e Sporting), bem como de outros sites dedicados à distribuição de conteúdos informativos e multimédia na área do desporto. Dado ao grande sucesso deste canal de televisão exclusivamente dedicado ao desporto, foram lançados mais recentemente os canais Sport TV2, Sport TV3 e Sport TV HD.

Após a aquisição da Lusomundo Serviços em 2005, o Grupo Controlinveste reuniu uma das mais completas e diversificadas ofertas na área dos media em Portugal, que inclui as já referidas SportTV, a TSF – a rádio de informação de referência do mercado – às quais se juntam títulos de imprensa como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, 24Horas, O Jogo, Global Notícias; outros títulos de referência na imprensa especializada, como o jornal Ocasião; na imprensa regional, o Açoriano Oriental (o mais antigo jornal de Portugal), o Jornal do Fundão, o Diário de Notícias da Madeira; as revistas Evasões, Volta ao Mundo e ainda uma participação accionista na Lusa, agência de notícias.

Por forma a apoiar o negócio das publicações impressas, a Controliveste detém uma forte presença no sector da impressão através de duas empresas gráficas (Funchalense, em Lisboa e NavePrinter, no Porto) bem como no sector distribuição, através de duas empresas de distribuição, a VASP na distribuição em pontos de venda e a Noticias Direct focada na distribuição porta-a-porta de jornais e revistas.

Adicionalmente, a Controlinveste tem ainda várias participações financeiras em sociedades desportivas e empresas de telecomunicações assim como controla uma operação no sector do turismo, a agência de viagens Cosmos, que dispõe de um portal de comércio electrónico.” (…)

De quem é hoje a Controlinveste Conteúdos?

O seu presidente do Conselho de Administração é o advogado Daniel Proença de Carvalho. António Mosquito, o empresário angolano que já detém 66,7% da Soares da Costa, adquiriu por 27,5 milhões de euros, 27,5% da empresa; Joaquim Oliveira 27,5%; Luís Montez (o genro de Cavaco Silva) tem 15%. Lembramos que este último é o proprietário, entre outras, da empresa Música no Coração, adquiriu o Pavilhão Atlântico por 21,2 milhões de euros e é proprietários de algumas rádios. Detém com António Mosquito 42,5% do capital da Controlinveste Conteúdos. O BCP e o BES possuem ainda 15% cada um.

Ninguém ignora que em determinada altura da década passada, essencialmente, a CS se revestiu de um inusitado interesse por parte de empresários nunca a ela ligados, por grupos que não haviam tido nenhuma relação ou vocação para e com a área da informação. Ocorre-nos, entre outros, um grupo ligado à construção civil e obras públicas que, de repente, desatou a comprar toda a imprensa regional e rádios locais, arriscando-se mesmo na imprensa nacional. O resultado viu-se passado que foi o tempo das “vacas gordas”, quando esse mesmo grupo começou urgentemente a auto-emagrecer-se, alienando títulos por menos 1 Euro.

Podem ser perniciosas e perigosas as investidas de empresários na área da CS, mas a ela alheios. Espécie de business angels, com dinheiro (assim se pensa) mas total ignorância do “negócio”. A curto prazo se deslindando algumas das eventuais razões do seu interesse, que pouco têm a ver com a informação num país livre e democrático, mas frequentemente com o IVº poder concedido para ombrear com o outro poder: o político, a troco sabe-se lá de quê.

Sílvio Berlusconi entendeu-o perfeitamente e chegou a primeiro-ministro da Itália.

Hoje, quando a imprensa regional, por exemplo, depende quase exclusivamente da publicidade paga pelas câmaras municipais e por instituições públicas, entre elas algumas que estão insolventes e sustentadas por Programas de Apoio à Economia Local (os PAEL), ou a passar apertos financeiros generalizados e do conhecimento público, é bom de supor que, ao “morder-se” a mão que dá o pão, se está a tirar o pão da boca. Só há duas alternativas: ou não se come e a breve trecho se morre de fome, ou come-se e morre-se de fartura.

Lembro aqui Miguel Torga e a sua Fábula da Fábula:
Era uma vez
uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda a gente
Inteligente
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insectos
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E, realmente…
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.
(Diário VIII,1956)

Desta exposição, tire o leitor na sua inteligência e discernimento, as ilações que entender. Nós já as tirámos. Há hoje muita CS nas mãos de empresários que vêem nela os lucros colaterais do seu investimento. Buscam poder e influência. Por aqui também os haverá, aqueles que a pretexto de um pretenso altruísmo, a título da salvação dos títulos, deles se apropriam para aquilo que num futuro próximo se verá, iniludivelmente. Filantropia a rimar com euforia, de deslumbrados paraquedistas da política e do mundo empresarial (agora tão intimamente irmanados), que nunca antes tinham voado em avioneta e já obtiveram um brevet, num curso de formação profissional acelerado… na área da queda livre.

Entretanto, os grandes grupos nacionais – e não estamos a falar de alguma “mixuruquice” local, já começaram a enveredar pelo digital, cientes de que aí está o futuro e a isenção de toda a CS. O Rua Direita fez a sua aposta há puco mais de 6 meses e cá está, a crescer todos os dias, na região, em Portugal e por todo o mundo…

Nota: Não se busquem neste texto relações de efeito e causa. Nele, o seu autor procurou lançar ideias para debate e reflexão, tão somente.

 

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