Grupo de enfermeiros cria sindicato independente para “acabar com ilegalidades”

Em causa está a insatisfação com o estado atual do setor da enfermagem. Para o novo sindicato, este deve ser "completamente independente e não pode estar preso a amarras políticas nem de federações".

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  • 21:57 | Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2020
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Um grupo de enfermeiros decidiu criar um novo sindicado dedicado ao setor – o Sindicato Independente de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU)- para “acabar com as ilegalidades que atingem” estes profissionais, divulgou esta quarta-feira a presidente.

Gorete Pimentel, a presidente da direção do SITEU, anuncia: “somos um sindicato diferente relativamente ao que é tradicional ver no trabalho sindical até agora. Vimos com energia de ativistas laborais que não se revêm na postura, ação e ideologias dos sindicatos atualmente existentes. A maioria de nós mantém os ideais de ser sindicalizado, mas os sindicatos talvez não tenham conseguido evoluir para acompanhar os novos tempos, com novas políticas, ideias, valores, estilo de vida e até canais de comunicação.”

O novo sindicato quer refletir o atual panorama da enfermagem, em que os profissionais trabalham em instituições públicas, instituições de solidariedade social e em instituições privadas. Nesta fase inicial, o SITEU está a ser financiado pelos membros da assembleia constituinte e no futuro serão as quotas dos seus associados a suportar as iniciativas.


Para Gorete Pimentel “o SITEU começa do zero em termos financeiros, somos nós, fundadores, a financiá-lo com o nosso dinheiro, para o arranque, e até termos membros inscritos e a pagarem quotas, não temos qualquer outra fonte de rendimento. Sentimos que o SITEU, vem responder a uma necessidade premente de uma nova forma de exercer o sindicalismo, focada na obtenção de resultados concretos e não apenas intenções. Sabemos que há a necessidade de tomar posições fortes. Queremos estar ao lado de todos os enfermeiros independentemente da instituição em que trabalham e do vínculo laboral que possuem. Queremos ainda, proteger os enfermeiros da coação a que vêm sendo sujeitos pelos seus superiores hierárquicos e/ou pelos responsáveis das unidades de saúde. Queremos ser a vós de representação dos enfermeiros em primeira instância, de modo que eles não tenham de se expor, para evitar represálias como temos vindo a sentir nos últimos anos.”

A presidente do SITEU considera “urgente a defesa dos direitos laborais, desde os mais básicos, como defender um horário de trabalho legal. Nada é mais básico do que isto e continuamos a ter os sindicatos em negociações estéreis e sem representar verdadeiramente os enfermeiros nas instituições por conivência política”.

Já num comunicado de apresentação, o SITEU refere que na sua base estão enfermeiros de vários quadrantes políticos. Gorete Pimentel refere que “apesar das diferenças políticas pessoais, estamos unidos pela enfermagem. As diferenças neste contexto são relegadas para segundo plano, quando muito, ajudam-nos a ter perspetivas e contributos variados, de forma a batalhar pelo nosso foco, a enfermagem e os enfermeiros. São muitas as situações irregulares e ilegais que os enfermeiros enfrentam no exercício da profissão”.

De acordo com o documento “existem 76.000 enfermeiros em Portugal, mas apenas cerca de 10.000 são sindicalizados”.

Para o SITEU é essencial que sejam cumpridos os rácios enfermeiro/doente, com dotações seguras, “vamos exigir a contratação de profissionais para suprir as necessidades, é a saúde dos doentes e dos enfermeiros que está em causa. Portugal conquistou ganhos em saúde nas últimas décadas que não podemos perder, não queremos um retrocesso civilizacional e é isso que está em causa”.

Em termos de reivindicações para os profissionais, o SITEU vai lutar por melhores condições salariais, nomeadamente pelo cumprimento do descongelamento das carreiras negociado para o Orçamento de Estado de 2018. Gorete Pimentel denuncia que o descongelamento “não só não está a ser implementado, como há discriminação de profissionais por tipo de contrato, há discrepâncias gritantes e ilegalidades que não podem continuar”.

Outra reivindicação é que a idade da reforma dos enfermeiros passe para os 60 anos e que a profissão seja reconhecida como aquilo que efetivamente é: uma profissão de desgaste rápido e de risco acrescido.

Por fim,  esta nova estrutura sindical promete primar pela transparência total e proximidade com os seus associados assim como abertura para entendimentos com as associações, movimentos, instituições e restantes sindicatos, sempre que seja benéfico para a profissão de enfermagem.

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