Estudo avalia o nível de mercúrio presente no peixe e marisco que o organismo consegue digerir

A bioacessibilidade traduz-se no que o organismo humano pode absorver a partir dos alimentos que ingerimos e é um instrumento particularmente relevante para determinar quais os valores máximos de contaminantes que podem ser consumidos ao longo da vida sem risco para a saúde

  • 10:17 | Segunda-feira, 19 de Setembro de 2022
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Um estudo publicado na revista “Marine Pollution Bulletin” aponta a necessidade da criação de uma metodologia universal para estimar a bioacessibilidade do mercúrio (Hg), um metal pesado tóxico, em alimentos presentes na dieta mediterrânica, mais especificamente em espécies de peixe e marisco, e destaca a importância da integração de medidas de bioacessibilidade nas normas de segurança alimentar.

A bioacessibilidade traduz-se no que o organismo humano pode absorver a partir dos alimentos que ingerimos e é um instrumento particularmente relevante para determinar quais os valores máximos de contaminantes que podem ser consumidos ao longo da vida sem risco para a saúde. Em concentrações muito baixas, o mercúrio não representa perigo para a saúde humana, mas a sua acumulação a longo prazo pode ter efeitos prejudiciais.

Este estudo, liderado por Filipe Costa, do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), avaliou a fração de mercúrio bioacessível em peixes e mariscos presentes na dieta mediterrânica, designadamente peixe-espada-preto, atum, espadarte, tubarão azul, salmão e tainha; mexilhão e amêijoa.

A escolha das espécies foi baseada nos principais peixes e mariscos consumidos no sul da Europa e incluiu espécies capturadas no oceano (peixe-espada-preto, atum, espadarte e tubarão azul), espécies de aquacultura (salmão e mexilhões) e espécies estuarinas (tainha e amêijoas). Para avaliar o nível de bioacessibilidade das espécies em estudo, a equipa, que integra também Pedro Coelho e Cláudia Mieiro, da Universidade de Aveiro (UA), recorreu a três formas distintas de extração in vitro, que «simulam em laboratório o efeito da saliva, suco gástrico e da bílis durante o processo de digestão», explica Filipe Costa, referindo que, no caso do peixe-espada-preto, foram ainda utilizados três diferentes métodos de confeção: cozer, fritar e grelhar, para avaliar o impacto dos processos culinários na bioacessibilidade do mercúrio.


O estudo conclui que a estimativa da bioacessibilidade do mercúrio no peixe e marisco depende do método aplicado, já que cada método de extração apresentou resultados diferentes, o que, para o investigador da FCTUC, «salienta a falta de uma metodologia universal para estimar a bioacessibilidade do mercúrio (Hg) nessas matrizes. As frações de Hg bioacessíveis variavam entre 10% e quase 90% do mercúrio total (T-Hg) e aumentaram nas espécies consideradas predadoras (espadarte, tubarão azul e atum). Entre os três métodos de extração testados, o Método Unificado de Bioacessibilidade (UBM) forneceu a estimativa mais elevada de bioacessibilidade de Hg para os consumidores».

No que respeita aos métodos de confeção utilizados, «todos eles reduziram consideravelmente a fração de Hg bioacessível», ou seja, observou-se uma «diminuição no teor deste contaminante», avança Filipe Costa, esclarecendo que, de uma forma geral, os resultados do estudo indicam que o «Hg bioacessível encontrado nestas espécies de peixe e marisco, especialmente após a confeção, está muito abaixo dos níveis estabelecidos pela legislação atual de avaliação de risco de segurança. Estes resultados destacam a importância da integração de medidas de bioacessibilidade na legislação de segurança alimentar».

A legislação de segurança alimentar atual apenas considera a concentração total de contaminantes em peixes e mariscos, não tendo em conta a bioacessibilidade contaminante durante o processo de digestão nem o efeito dos modos de confeção na solubilização digestiva do contaminante. O artigo científico pode ser consultado em: https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2022.113736.

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