Estudo analisa impactos da reconstrução de património destruído por grupos radicais no turismo e nas comunidades

De acordo com Cláudia Seabra, o estudo da relação entre turismo e terrorismo através da análise de conteúdos noticiosos «permite perceber a forma como os atentados terroristas têm enfraquecido vários governos na vertente económica e política afastando as pessoas destes lugares, e marcando certos países como não seguros; e ainda a forma como os grupos terroristas usam a destruição do património para alcançar uma audiência global para passar a sua mensagem e reivindicações».

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  • 11:39 | Sexta-feira, 17 de Março de 2023
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A partir da análise da cobertura noticiosa da destruição e reconstrução da estátua Jahanabad Seated Buddha, no Paquistão, destruída por um ataque terrorista em 2007, uma equipa de investigação da Universidade de Coimbra (UC) procurou analisar as reações da comunidade local e das autoridades governamentais ao processo destrutivo e reconstrutivo da estátua.

A investigação apresenta como principais conclusões o ativismo patrimonial da comunidade local face à devastação, a importância da recuperação da estátua para manter a estabilidade económica da atividade turística na região de Swat, onde se encontra a estátua, assim como a maior atenção dada pelos média aos períodos de destruição comparativamente ao destaque dado à fase de reconstrução. 

Este estudo foi conduzido pelo investigador do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da Universidade de Coimbra, Farhad Nazir, e pelas docentes da Faculdade de Letras da UC (FLUC) e investigadoras do CEGOT, Ana Maria Caldeira e Cláudia Seabra. Teve como objetivo central «analisar o impacto que a destruição de importantes elementos de património por atentados terroristas tem na atividade turística», adianta Cláudia Seabra. «Principalmente nos últimos 20 anos, grupos radicais atualizaram a sua estratégia de atuação, destruindo património classificado numa tentativa de destruir as memórias e identidades das civilizações alcançando audiências globais», contextualiza a investigadora.


Nesta investigação, foram analisadas notícias veiculadas por meios de comunicação regionais (de Swat), nacionais (do Paquistão) e internacionais e também agências de notícias. A análise qualitativa permitiu identificar que «o discurso dos média continua a preferir os elementos sensacionalistas de destruição em vez de conteúdos sobre restauração e reabilitação», destaca Cláudia Seabra. Segundo a equipa de investigação, «o resultado mais interessante foi a perspetiva revelada pelas comunidades locais na proteção do seu património independentemente dos discursos radicais e religiosos difundidos pelos grupos terroristas, dando alento aos movimentos de proteção patrimonial».

Mais concretamente, na análise de notícias sobre a destruição (2007-2011), a equipa de investigação identificou que as principais informações veiculadas se centraram «na agenda do Estado paquistanês e de outros elementos da sociedade», destaca Cláudia Seabra, nomeadamente: a inatividade e passividade das autoridades administrativas para proteger o património; a ligação da comunidade local à estátua, assumindo-a como parte do seu legado ancestral; a destruição desta figura de Buda com a justificação de que teria sido perpetrada para destruir uma figura que seria contra a filosofia do Islão.

Já na observação de conteúdos noticiosos sobre o período de reconstrução (2012-2016), os investigadores denotam, sobretudo, «os benefícios comerciais desta recuperação, sobretudo para garantir a estabilidade económica das atividades turísticas em Swat», elucida a docente da UC. «Também o ativismo patrimonial e assistência física e moral da comunidade local foi evidenciada pelos meios de comunicação social», adianta Cláudia Seabra. Neste contexto, a autora explica que «o movimento terrorista responsável pelo ataque tentou conquistar a simpatia da comunidade local usando a iconoclastia islâmica (oposição à existência de imagens religiosas) como um escudo religioso para justificar o ato, mas, no entanto, a comunidade refutou essa narrativa e demonstrou ativismo patrimonial, lutando para a reconstrução da estátua Jahanabad Seated Buddha».

De acordo com Cláudia Seabra, o estudo da relação entre turismo e terrorismo através da análise de conteúdos noticiosos «permite perceber a forma como os atentados terroristas têm enfraquecido vários governos na vertente económica e política afastando as pessoas destes lugares, e marcando certos países como não seguros; e ainda a forma como os grupos terroristas usam a destruição do património para alcançar uma audiência global para passar a sua mensagem e reivindicações».

O artigo científico “Heritage tourism and terrorism: media coverage of the destruction and rebuilding of Jahanabad Seated Buddha in Pakistan” foi publicado no Journal of Heritage Tourism, e encontra-se disponível em https://doi.org/10.1080/1743873X.2023.2181701.

 

 

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