Bolsa Nacional para Projetos de Investigação

Premiada investigação que vai explorar o impacto do microbioma nos comportamentos de risco dos adolescentes Estudo abre caminho a estratégias de prevenção personalizadas, centradas na modulação das bactérias do intestino, com potencial para promover o equilíbrio emocional, controlar a impulsividade e proteger a saúde mental e física dos jovens.

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  • 12:23 | Terça-feira, 08 de Julho de 2025
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A sexta edição da Bolsa Nacional para Projetos de Investigação em Microbiota, atribuída pela Biocodex Microbiota Foundation, distinguiu o projeto MINDSET (Mapping INteractions of the biDirectional gut-brain axiS in adolEscent risk-Taking behaviour), liderado por Joana Ferreira Gomes*, investigadora do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

O projeto será financiado com 25 mil euros, valor atribuído anualmente pela Fundação para apoiar investigação pioneira na área da microbiota.

A ligação entre o microbioma intestinal e os comportamentos de risco na adolescência é ainda um campo em desenvolvimento, mas os dados disponíveis apontam para uma relação estreita entre o equilíbrio do microbioma intestinal e o funcionamento do cérebro. “Sabe-se que o microbioma comunica com o sistema nervoso central através do chamado eixo intestino-cérebro, influenciando funções cognitivas, emocionais e comportamentais. As bactérias intestinais produzem substâncias químicas, como a serotonina e a dopamina, que atuam como mensageiros e regulam o humor, a impulsividade e a tomada de decisão”, explica a investigadora Joana Ferreira Gomes.


De acordo com a cientista do i3S e professora da FMUP, “estes mecanismos são particularmente relevantes na adolescência, fase marcada por maior instabilidade emocional e vulnerabilidade a fatores externos, como o stress ou a pressão social”.

A adolescência, especifica Joana Ferreira Gomes, é caracterizada por um aumento das taxas de mortalidade e morbilidade, sobretudo devido ao maior envolvimento em comportamentos de risco, como a condução imprudente, o consumo excessivo de álcool, a atividade sexual desprotegida e o consumo de substâncias ilícitas, fatores que aumentam significativamente a probabilidade de consequências adversas para a saúde.

Estudos com modelos animais indicam que alterações na microbiota durante este período – provocadas, por exemplo, pelo uso excessivo de antibióticos – podem ter impactos duradouros na memória, no comportamento e na saúde mental. É com base nestas evidências, sublinha a investigadora, que o projeto MINDSET «pretende aprofundar o conhecimento sobre como o microbioma pode ser um fator protetor contra comportamentos de risco, de que é exemplo o consumo de substâncias, a condução imprudente ou a impulsividade”.

A equipa de Joana Ferreira Gomes, que integra investigadores do grupo «Glial Cell Biology» do i3S, vai recorrer à recolha de amostras de fezes e sangue em adolescentes dos 12 aos 18 anos para analisar a composição da microbiota intestinal e avaliar marcadores hormonais e inflamatórios no sangue. “Estes dados serão cruzados com os resultados de questionários e tarefas comportamentais, que permitirão avaliar o grau de impulsividade, a procura por experiências intensas, a regulação emocional e a predisposição para assumir riscos”, revela a investigadora.

Ao mapear as interações entre o microbioma e o sistema neuro-imuno-endócrino, o projeto poderá ter um impacto significativo na forma como compreendemos e abordamos os comportamentos de risco na adolescência. “Ao identificarmos ligações entre o microbioma intestinal, marcadores biológicos e comportamentos, poderemos desenvolver estratégias de prevenção mais precoces, precisas e personalizadas”, frisa Joana Ferreira Gomes. E explica que, a longo prazo, estes dados podem contribuir para intervenções baseadas na modulação do microbioma como forma de promover o equilíbrio emocional, reduzir a impulsividade e os comportamentos de risco prejudiciais e proteger a saúde mental e física dos adolescentes.

O recrutamento de voluntários ainda está a decorrer e as demonstrações de interesse podem ser submetidas aqui: m2child.med.up.pt/participe/mindset

* Joana Ferreira Gomes é Professora Auxiliar na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e investigadora no grupo «Glial Cell Biology» do  i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto. A sua formação académica inclui Medicina e Microbiologia, tendo desenvolvido um percurso académico nas áreas de Histologia e Embriologia, e um percurso de investigação em Neurociências. A sua investigação tem-se centrado sobretudo nos mecanismos neurobiológicos associados à dor crónica. Mais recentemente, iniciou uma nova linha de investigação que cruza a sua formação multidisciplinar e experiência profissional, focando-se no eixo intestino-cérebro em perturbações do neurodesenvolvimento.

EQUIPA DE INVESTIGAÇÃO 
Joana Ferreira-Gomes1,2, João Relvas1,2, Inês Mendes-Pinto1,2, Alexandre Rodrigues1,2, Sofia Pinto1,2, Teresa Correia-de-Sá1,2, Sofia Marques3,4

AFILIAÇÕES 
i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto;
Departamento de Biomedicina, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
CIPD-Centro de Investigação em Psicologia para o Desenvolvimento, Instituto de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade Lusíada Porto.

Legenda da equipa vencedora:
Da esquerda para a direita: Joana Ferreira-Gomes, João Relvas, Inês Mendes-Pinto, Alexandre Rodrigues e Sofia Pinto.

 
Biocodex Microbiota Foundation 
Existe um interesse crescente na microbiota devido ao seu potencial numa ampla variedade de doenças. A missão da Biocodex Microbiota Foundation (BMF) é aproveitar este interesse crescente e promover a pesquisa em microbiota e sua interação com várias patologias. A pesquisa é apoiada por meio de subsídios concedidos a projetos que investigam a implicação da microbiota na saúde humana. A BMF apoia a pesquisa básica e aplicada. Os projetos são selecionados anualmente por um comité de cientistas nacionais independentes.

i3S 
O i3S é uma instituição transdisciplinar dedicada à investigação e inovação em Ciências da Saúde. Reúne cientistas de renome internacional com competências em investigação básica, translacional e clínica. Os investigadores do i3S trabalham interativamente para dar resposta a uma série de questões no âmbito de três programas integrativos: Cancro; Interação e Resposta do Hospedeiro; Neurobiologia e Doenças Neurológicas. Orientados por uma responsabilidade social e ética, o i3S tem cerca de 1500 colaboradores a desenvolver múltiplas abordagens que concorrem para um único objetivo: promover a saúde.

FMUP
A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) é uma reputada instituição de Ensino Superior, destacando-se pela excelência do ensino que promove, pelo lugar cimeiro que ocupa na ciência e pela ligação simbiótica com cerca de duas dezenas de instituições de saúde, públicas e privadas, de todo o país. Distintivamente, a FMUP integra o primeiro Laboratório Associado dedicado à investigação clínica e de translação – o RISE – e acolhe ainda a maior unidade de I&D do país na mesma área – o RISE-Health.

Bolsas atribuídas em Portugal pela Biocodex Microbiota Foundation
 
Edição 2019-2020
Projeto “Espondilartrite e Artrite Reumatoide, o papel da microbiota na eficácia da terapia biológica”, da autoria da Prof.ª Doutora Ana Faria e do Prof. Doutor Fernando Pimentel-Santos, NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

Edição 2020-2021
Projeto PRIMING, que tem como objetivo compreender o impacto da obesidade materna na ativação e estimulação do sistema imunitário da criança induzido pela microbiota intestinal ao longo do primeiro ano de vida, da autoria de uma equipa de investigadores do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, liderado por Benedita Sampaio Maia.

Edição 2021-2022
Projeto de investigação Mycobiota homeostasis under the regulation of adenosine receptors as pivotal players in obesity, de uma equipa liderada pela investigadora Teresa Gonçalves, da Faculdade de Medicina de Coimbra.

 Edição 2022-2023
Projeto de investigação, intitulado “Manipulação do microbioma para reduzir a psicopatologia na esclerose múltipla”. Equipa vencedora composta por: Adelaide Fernandes e André Santos do iMed.ULisboa – Instituto de Investigação do Medicamento | Faculdade Farmácia da Universidade de Lisboa; e Ana Rita Ribeiro, i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto.

Edição 2023-2024
Projeto AGEWISE, de uma equipa liderada pela investigadora Ana Santos Almeida, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (CARE, iMM) que visa estudar a complexa relação entre a menopausa, o microbioma intestinal e as hormonas sexuais femininas.

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