Viseu vai finalmente apanhar o comboio na paragem do autocarro

Uma das principais reivindicações dos viseenses tem sido a ligação ferroviária que a capital do distrito perdeu quando em 1990 se encerraram a Linha do Dão e a Linha do Vale do Vouga.

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  • 9:59 | Segunda-feira, 13 de Setembro de 2021
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Na última reunião da Assembleia Municipal (AM) de Viseu, na passada sexta-feira, foi aprovada, por unanimidade, uma moção, apresentada pela deputada municipal do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Vieira, que delibera:

1. Dar todo o apoio ao compromisso assumido publicamente pelos ex-presidentes das câmaras municipais de Viseu e Mangualde para que os presentes e/ou os futuros autarcas destes concelhos vizinhos, junto com a CP e, eventualmente, com a empresa de camionagem concessionária da ligação de Viseu a Mangualde, encetem, com a maior brevidade possível, a criação de uma carreira diária, de carácter transitório enquanto não se concretiza a estação ferroviária em Viseu, nos horários dos comboios intercidades, por autocarro, ou mini-autocarro para começar, que ligue a Central de Camionagem de Viseu à Estação da CP de Mangualde, através da A25, com bilhete integrado (Viseu bus-estação de destino), de modo a evitar a compra de dois bilhetes (autocarro e comboio), sem quaisquer encargos para os orçamentos municipais.

2. Continuar a reivindicar junto do governo a ligação ferroviária entre Aveiro e a Linha da Beira Alta, com estação ferroviária em Viseu, da qual não abdicamos.”


Há mais de uma década que o Bloco de Esquerda tem andado a defender esta solução imediata que já poderia ter sido implementada há muito. Na última vez que a defendi, na Assembleia Municipal, Almeida Henriques perguntou-me: “E as mercadorias?” Respondi-lhe: “E as fábricas?” Esta entropia à mobilidade dos viseenses já estaria resolvida. Quantas cidades não têm a estação de comboio a mais de 10 km de distância? Aliás, até o avião que sai de Bragança e faz escala em Viseu também não aterra no Terreiro da Paço, mas no aeródromo de Cascais, e os passageiros que vão para Lisboa apanham um “shuttle” (mini-autocarro exclusivo) que os leva aos Restauradores, quase o dobro da distância entre Viseu e Mangualde.

Uma das principais reivindicações dos viseenses tem sido a ligação ferroviária que a capital do distrito perdeu quando em 1990 se encerraram a Linha do Dão e a Linha do Vale do Vouga. Primeiro os aveirenses e depois os viseenses de visão mais larga não ficaram agarrados ao passado e já há muitos anos que passaram a apoiar a reivindicação da construção de uma linha ferroviária a ligar o Porto de Aveiro (que também serviria o de Leixões) à estação de Mangualde, passando por Viseu, prosseguindo até Salamanca, com vista à ligação ao resto da Europa.

Já estamos cansados das promessas de vários governos, desde há décadas. Depois de um primeiro chumbo da Comissão Europeia por considerar que haveria duplicação (concorrência) com a Linha da Beira Alta e de a análise de custos e tráfego ter sido negativa, o governo recandidatou novo projecto, também recusado.

Face a esta posição da Comissão Europeia, que contraria a necessidade urgente de substituir em toda a União Europeia os meios de transporte rodoviários, emissores de gases poluentes que contribuem para o aquecimento global que ameaça o futuro do nosso Planeta, pelo transporte ferroviário, muito mais sustentável, Portugal reduziu o projecto inicial para o chamado Corredor Internacional Norte, que liga a estação de Mangualde, na Linha da Beira Alta, com paragem no concelho de Viseu, à Linha do Norte, no concelho de Aveiro, incluído no Plano Ferroviário Nacional, apresentado pelo governo em 19.04.2021.

Precisamente em Abril deste ano, o BE apresentou na AM de Viseu uma moção, também aprovada por unanimidade, “Pela Inclusão de Viseu na Rede Ferroviária Nacional e Internacional”, que seria enviada à CIM Dão Lafões e à CCDR Centro e como contributo ao processo do Plano Ferroviário Nacional, para deixar bem marcada a posição inequívoca de Viseu sobre “a importância estratégica para toda a região e para o país da ligação Aveiro-Viseu-Mangualde”.

Acontece que o ministro das Infraestruturas já avisou que este Plano vai ser concretizado à medida das condições financeiras do país, adiantando que os investimentos serão superiores aos previstos no PNI (Plano Nacional de Investimentos) 2030, que atribui apenas 10 milhões de euros à ferrovia, incluindo o eixo de alta velocidade entre Lisboa e Porto. Ou seja, o Plano Ferroviário Nacional não passa de um documento de intenções para concretizar, alegadamente, até 2030. O secretário de Estado das Infraestruturas apenas garantiu a determinação do governo em concluir as obras de modernização das várias linhas regionais até 2023. Ou seja, no melhor das hipóteses, Viseu continuará sem estação de comboio por mais uma década. Torna-se, pois, urgente uma solução imediata para ligar Viseu à Linha da Beira Alta, de modo a satisfazer o direito dos viseenses a um meio de transporte mais cómodo e menos poluidor do que o rodoviário.

O que provocou, agora, esta unanimidade na AM de Viseu foi a deputada do BE ter recordado na moção que “no Debate sobre Acessibilidades à Região Centro, organizado pela Proviseu, PASC e SEDES, em 20.05.2017, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu, ficou lavrada nas conclusões (ponto 2) a reivindicação da ligação, no horário dos comboios intercidades, por mini-autocarro, da Central de Camionagem de Viseu à Estação da CP de Mangualde (17 km, através da A25, em 15 minutos; mais rápido do que ir da Estação Rodoviária de Sete Rios à Estação de Santa Apolónia), proposta defendida pelo engº Mário Lopes, professor do Instituto Superior Técnico, por Hélder Amaral, que interveio na qualidade de presidente da Comissão de Economia e Obras Públicas da A.R., e dos presidentes das câmaras municipais de Viseu e Mangualde, Almeida Henriques e João Azevedo, que se comprometeram a encetar esforços nesse sentido.

A proposta foi introduzida por mim no debate, mas foi o apoio dado por um especialista prestigiado como o Engº Mário Lopes que fez a chispa que iluminou os dois autarcas. Entretanto, parece que o assunto teria caído no esquecimento, não fora esta iniciativa da deputada municipal do BE.

Agora, imaginem o que seria termos mais eleitos do Bloco na AM e vereadoras e vereadores com a firmeza, a ligação à população e a vontade de construir soluções dos bloquistas, na Câmara Municipal.

(Cartoon do autor do artigo)

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Publicado em Opinião