Os embustes de um mandato

Dei-me ao trabalho de somar todas as verbas que o Executivo diz ter investido nos diferentes projectos nos últimos 7 anos e cheguei à conclusão, de que o volume de investimento propalado, ultrapassa em muitos milhões, as execuções orçamentais que aqui aprovámos, neste período.

Texto Filomena Pires Fotografia Direitos Reservados

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    • 15:15 | Domingo, 12 de Setembro de 2021
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    É notória nesta última informação da Senhora Presidente, à Assembleia, a opção por dois andamentos na escrita. Um primeiro, de cunho pessoal, intimista e genuinamente sentimental, que apreciei. E um segundo, onde assume por inteiro, em nome do Executivo, todos os sofismas, slogans e embustes oficiais deste mandato.

    Para iniciar o segundo andamento, socorre-se a Senhora Presidente dos últimos Censos, e do registo de subida de 419 habitantes, 0,4%, no Concelho, para incensar a estratégia de desenvolvimento económico, adotada pelo Executivo. Informa-nos, que nestes 4 anos, os mais de 250 milhões de euros investidos pelas empresas, fixaram no concelho mais 3.500 novos trabalhadores, sendo que desses, 850 eram engenheiros da área das novas tecnologias. Das duas três: ou as contas do Executivo estão “marteladas”, ou os Censos não encontraram estes novos habitantes, ou, tendo encontrado, perderam-se outros milhares de empregos nas “velhas profissões”.

    É um facto. O investimento privado nas novas tecnologias e na saúde, fez o Executivo esquecer-se de inscrever nas suas preocupações, a reclamação de investimento para a construção do Matadouro Público de Viseu. Como consequência directa, como os Censos também mostram, a agricultura familiar do concelho, perdeu centenas de postos de trabalho, diminuiu a população nas nossas aldeias, desapareceram dos campos e dos registos milhares de cabeças de gado e consequentemente as famílias rurais perderam milhões de euros de rendimento.


    No rol de esquecimentos e omissões na dita estratégia de desenvolvimento do Executivo, também se pode acrescentar a ligação ferroviária à cidade, a abolição das portagens e a ligação do IP3 a Coimbra, em perfil de auto-estrada.

    O ridículo da frase, o “Farol do Interior do País é Viseu”, consubstancia lapidarmente o delírio propagandístico municipal e a vacuidade dos conceitos. Faz até lembrar determinada fraseologia de algumas seitas religiosas.

    É como a evocação permanente do galardão de “Melhor Cidade para Viver”. Tudo não passa de um mero slogan propagandístico, inserido numa estratégia mediática. A avaliação encomendada pelo município a quem cá não vive, não resiste ao simples teste de uma visita nocturna ao Centro Histórico, num fim de semana.

    Outra habilidade que prova a obsessão do Executivo pelos números e a estatística, tem a ver com a mistificação dos dados do INE, para justificar um pírrico lugar cimeiro no indicador de públicos em espectáculos ao vivo. E podemos saber a que ano se referem as estatísticas? E o que diz o INE, sobre os públicos em sala, Senhora Presidente? E como está distribuída pelo INE a distribuição dos espectáculos e dos espectadores pelos meses do ano? Como se compreende, o Executivo mete tudo no mesmo saco, para fazer crer que há muitos espectáculos ao vivo e com muito público, quando na realidade o que foi “medido” pelo INE, foi a informação dada pelo executivo, relativa aos milhares de pessoas que assistem às Cavalhadas de Vildemoinhos e de Teivas e sobre a frequência da Feira de S. Mateus, em Agosto e Setembro.

    Regozijo, manifesta também a Senhora Presidente, pelas “12 mil pessoas que praticam algum tipo de actividade física” no concelho. 12% da população. Significa que os outros 88%, são sedentários e inactivos? Dos 8 milhões de euros investidos no “Programa de Gestão, Construção e Reabilitação das Instalações Desportivas e Espaços Promotores de Actividade Física”, uf! não sobrou nada, para construir a inexistente Piscina Olímpica, que tanta falta faz aos nossos valorosos nadadores, para evoluírem nas suas marcas, e ao concelho, para possibilitar a realização de eventos que requeiram este tipo de equipamento?

    Os “triângulos virtuosos”, de que fala a propaganda municipal, de tão fustigados pela realidade, que sacode a demagogia e a falácia, estão a ficar obtusos, a fugir para o “quadrado”. Esta dos “rankings” do sucesso escolar dos alunos do ensino secundário e do 3º ciclo do Concelho, então, é a cereja no topo do bolo.

    Pode explicar-nos o que é que a Câmara tem a ver com o ensino secundário e com o 3º ciclo, para chamar a si os méritos do sucesso dos alunos? Que eu saiba, até agora, a Câmara não tem qualquer responsabilidade pedagógica ou de gestão. Se há sucesso, o mérito é todo das escolas, dos professores e dos funcionários e muito pouco ou nada, da Câmara. Se o Executivo queria protagonismo, era inscrever a necessidade da Universidade Pública no concelho e de uma Faculdade de Medicina, alicerçadas no ensino superior já existente. Mas essas bandeiras, não se vislumbram em nenhum dos vértices do triângulo virtuoso da educação municipal.

    Imaginem, que até o aumento do poder de compra no concelho é mérito exclusivo da Câmara e dos empresários e investidores. Os que trabalham e criam a riqueza, auferindo, na maioria dos casos remunerações de miséria, como o salário mínimo, para permitirem o acumular de riqueza dos patrões, esses não merecem qualquer referência elogiosa por parte do Executivo.

    Fala-se do investimento no Ambiente e na Sustentabilidade, nos miríficos 20 milhões de euros de investimento por ano nas freguesias (a maioria dos senhores presidentes de Junta não se importava que fosse um terço) mas nunca mais ouvimos falar do famigerado projecto dos “Novos Povoadores”. Nem do aproveitamento de recursos naturais potenciadores de desenvolvimento real das zonas mais deprimidas do Concelho, como é o caso da Mata Municipal de Vale de Cavalos, em Côta. Um Executivo com vistas largas e realmente preocupado com o desenvolvimento sustentado do Concelho e o bem-estar da população rural, já teria criado neste magnífico espaço natural um Parque de Campismo e Caravanismo, Piscinas de Água Corrente, uma Quinta Pedagógica de Espécies Vegetais e Animais, etc. Como é óbvio, teriam de cuidar em simultâneo da melhoria significativa das acessibilidades do século passado, a toda esta zona.

    No que respeita à habitação, Sr.ª Presidente, creio que os problemas não se limitam aos carenciados abrangidos por medidas viradas para a habitação social. É preciso ir mais longe, investir numa política social para a habitação que resolva os graves problemas de habitação que temos e que não temos visto concretizada.

    Duas notas finais. Dei-me ao trabalho de somar todas as verbas que o Executivo diz ter investido nos diferentes projectos nos últimos 7 anos e cheguei à conclusão, de que o volume de investimento propalado, ultrapassa em muitos milhões, as execuções orçamentais que aqui aprovámos, neste período. A outra nota, é do mesmo cariz. Há 3 anos a taxa anunciada pelo Executivo, de cobertura de água no Concelho era de 99%, e a taxa de cobertura de saneamento, de 98%. Será que não se fez mais nada, nesta área, nos últimos três anos, ou tendo-se feito, por esquecimento, não se actualizaram as percentagens, para 100 ou 101%, por exemplo?

     

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