Uma reflexão com a idade da democracia

Quando muito do nosso eleitorado, que passa o tempo a chamar os políticos de corruptos de forma fácil e com juízo imediato, vota num personagem deste género, é a perversão conceptual da democracia instalada na nossa sociedade.

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  • 11:22 | Quinta-feira, 08 de Maio de 2025
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A sensivelmente 10 dias das próximas eleições legislativas dei por mim a pensar no perfil dos candidatos a Primeiro Ministro de Portugal e se desta vez haveria algo de diferente relativamente aos atos eleitorais anteriores.

De notar que tenho exatamente a mesma idade da nossa democracia e que vivi e exerci o direito de voto num bipartidarismo que nos acompanhou praticamente desde o 25 de Abril de 1974. Também, referir a minha, alguma, inclinação para a esquerda,  sem dogmas e quem me conhece sabe que sou bastante liberal em muitas das minhas convicções políticas, visão da sociedade atual e capaz de flutuar pela adaptação aos enquadramentos económicos através das teorias Keynesianas e Hayekianas.

Luís Montenegro é uma pessoa normal dentro da normalidade política vigente. Vive e sobrevive no sistema. Criou a sua teia de influência e está plenamente convicto que o seu modo de vida está correto. Está tão convicto que ainda não percebeu o porquê e de que o acusam. Está tão aculturado a uma democracia onde os políticos utilizam o poder para trampolim profissional e ampliação da sua rede de contactos, que até acha estranho alguém perguntar sobre a sua vida profissional paralela(anterior/atual?) e qual o possível conflito de interesses com a sua função. Mais, passou da estranheza, a achar piada, não fosse o seu semblante arrogante e prepotente demonstrar o seu conforto com o sistema instalado e a sua impunidade.


Quantos Portugueses nas empresas onde trabalham têm contratos de exclusividade? Quantos têm de pedir autorização à empresa para fazerem parte de listas a cargos públicos nem que seja em regime pós-laboral? Mais importante, quantos não têm tempo para fazerem algo mais que as suas profissões?…

Quando um Primeiro Ministro não percebe isto, algo de muito errado se passa na nossa democracia. Quando muito do nosso eleitorado, que passa o tempo a chamar os políticos de corruptos de forma fácil e com juízo imediato, vota num personagem deste género, é a perversão conceptual da democracia instalada na nossa sociedade. Criticamos e depois concordamos. A pergunta que se impõe é:

Como é que Luís Montenegro se predispõe a ir a votos? Não sei a resposta.

Pedro Nuno Santos é uma pessoa normal dentro da normalidade humana e social nos nossos dias. Pode rir, pode estar mal disposto, tem dias melhores, tem dias piores. Faz vídeos simples na primeira pessoa nas redes sociais. Fala e argumenta de forma despretensiosa. Aborda os temas sem ser de forma comercial, para quem conhece esta forma de estar. É tão normal que publica músicas da sua preferência no Instagram sem perceber (ou se importar) que o seu suposto publico, os eleitores, não são na sua maioria fãs daqueles estilos musicais. É tão simples como isto. Não catalogado, sem marketing exacerbado, sem filtro, somente simplicidade e normalidade. Não se resume, como no caso do seu concorrente a uma questão de sobrevivência. Tem defeitos? Ainda bem. Gosto pouco dos “perfeitos” e dos que nunca se enganam e raramente têm dúvidas. Acreditar nisso é sinal de pouca inteligência.

Vi alguns, poucos, e durante pouco tempo os debates na televisão. Para mim PNS perdeu sempre (à exceção daquele com um personagem parecido com os ditadores da América do Sul). Dei por mim a pensar, ainda bem que perdeu. Fazia-me confusão nesta reflexão ter mais um bem-falante, com argumentos mal-intencionados e onde as frases feitas e o esforço para perdurar um modo de vida os leva a serem bons naquilo que se transformou o político Português dos últimos anos. Um artista de trapézio, medíocre analista de estatística e um incompetente com o flagelo económico do Séc. XXI nas sociedades ditas modernas, a perda de poder económico da classe média e o agravamento das desigualdades entre os mais ricos e os mais pobres.

 

Reflexão

Gosto de pessoas normais e simples. São as pessoas normais que fazem coisas extraordinárias. Gosto de pessoas que não agradam a todos, escondem menos. Gosto de pessoas que procuram a maioria de forma despretensiosa e não para perdurar modos de sobrevivência que nos enojam a todos. São as pessoas normais que nos desiludem quando não corre bem, porque nas outras nunca corre mal no seu entender. Gosto de pessoas normais porque posso conversar com elas. Gosto de pessoas normais que se enganam, enganam-se menos e aprendem com os erros. Gosto de pessoas normais porque falam como e para pessoas.

Também acho que sou uma pessoa normal e simples, com muito gosto.

 

 

 

 

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Publicado em Opinião