O português é hoje uma das grandes línguas globais, falada por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes. É património comum de países e culturas, instrumento de identidade e veículo de criação literária, científica e artística. Porém, em Portugal, pátria-mãe desta língua, ainda não existe um espaço museológico inteiramente dedicado a celebrá-la.
O Brasil, em São Paulo, foi pioneiro ao criar o Museu da Língua Portuguesa, inaugurado em 2006 no edifício da Estação da Luz. Um incêndio quase o destruiu em 2015, mas a resposta foi firme: o museu foi reconstruído e reabriu em 2021, modernizado e interativo, projetando-se como lugar de encontro, de memória e de futuro para todos os falantes de português.
É tempo de Portugal assumir essa missão. Um Museu da Língua Portuguesa em Lisboa — ou noutra cidade de forte tradição cultural e académica — seria não apenas um gesto de reconhecimento histórico, mas também uma plataforma de diálogo com o espaço lusófono. Poderia integrar exposições sobre a evolução histórica da língua, as suas variantes no mundo, a influência árabe, africana e ameríndia, as grandes obras literárias, a música, a oralidade popular, bem como recursos interativos que mostrassem a vitalidade da língua no presente.
Seria um museu para estudantes e investigadores, mas também para turistas e cidadãos curiosos. Um lugar de encontro onde o português se apresentasse ao mundo com a dignidade de património imaterial universal.
Portugal, como berço da língua, não pode ficar atrás. Se São Paulo já nos mostrou o caminho, cabe agora a Lisboa — e a todo o país — acolher a casa que falta à língua que nos une.
Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor