CAPÍTULO XL
A numeração deste capítulo é sugestiva – XL – tamanho para adultos! Preços grandes, tamanho XL, para pagar as brincadeiras deles, dos adultos que se divertiram à nossa custa, que esbanjaram uma fortuna em brinquedos caros, mas de encher a vista.
Enquanto esperamos por novos desenvolvimentos, na ilusão, digo, na esperança que se faça alguma justiça, voltamos ao assunto que nos trouxe até aqui.
Porque será que a água é tão importante?
Para nós a água é vida, para eles é um negócio. Para nós a água é essência, para eles é política. Para nós a água é pureza, para eles é o ego. Para nós a água purifica, para eles é o clímax do poder. Com a água tomamos banho, eles lavam as mãos – tal como nos filmes da Quaresma …
Os outros, quase 15 milhões, também devem ter sido gastos, como manda a tradição, quem sabe se nas mesmas coisas, ou não! Nunca ninguém explicou, ninguém quis explicar.
Fiquemos com uma certeza – não foi para nos matar a sede que nos venderam ao desbarato.
Se em 2008 era assim, que se preservem os cânones, servirão para gerações vindouras.
Em 2021, a meses do ato eleitoral, numa sala perfumada de imitações autênticas, à volta de um távola mais moderna que a do Rei Artur e unidos em jeito de “brain storming”, dos rostos corados brotavam sinais do hercúleo esforço. De repente, saltou-lhes a tampa e, em uníssono, balbuciaram como quem não quer a coisa, quase em segredo:
– “Vamos baixar a água”!
O porta-voz acrescentou: – Façamos assim, vamos baixar 2 ou 3 cêntimos o preço da água do 2.º, ou talvez do 1.º escalão. O importante é anunciar que irá baixar.
– E a concessionária aceita? Questionou o mais sensato.
– Bem, é assim – vai ter uma contrapartida. Em segredo, nós câmaras, elas juntas de freguesia, escolas e similares pagarão a diferença.
– Mas como assim?
– Muito simples, os serviços públicos, que pagam a água a 7 cêntimos / m3, passarão a pagar pelo 3.º escalão, 3 vezes e tal mais cara, a preços agora.
– E de onde vem o dinheiro?
– Ora, do Estado, o Costa tem os cofres cheios.
– Mas esse dinheiro do Estado não é do povo?
– E depois? O povo que se lixe. Se for do Estado, o povo quer lá saber …
Num comprometedor silêncio, levantaram-se e ouviram o chefe alvitrar:
– Agora, cada um faça o seu trabalho, anuncie a boa nova nos seus locais de culto, os eleitores vão gostar.
-E será que não desconfiam?
– Claro que não, o povo quer é festas. Tu, fazes em junho, por causa do clima; tu em meados de julho, como é tradição; tu, mais a sul, fazes festas na primeira quinzena de agosto e tu na terceira semana, quando o pessoal vem da praia. Eu ando sempre em festas, não posso perder tempo, tenho de encomendar várias, começo em maio e acabo em setembro, nas vésperas das eleições.
Vai acima, vai abaixo, vai ao centro e bota abaixo…
(CONTINUA)